3 POEMAS INÉDITOS DE ADRIANA BANDEIRA
VINDO
De onde venho
dizem-me as coisas
sobre o vagar calmo
da esperança
por um fio
e quando não foi réstia?
e quando não foi frio?
o andar do sempre
o andar do rio

DEPOIS
Depois do tempo
sem que se chame instante
momento
lembro dentro
lembro tanto
e ainda quero
qualquer sussurro
barco
vento
como se fosse o voltar dos dias
meio tonta
sem inteiro gestos
nasço inconstante
verto
verso
por causa de qualquer coisa
um grão
um laço
um vermelhidão
embaraço
ainda quero o que não concebo
nas mãos
tão longe está
ser e vão
que nos lança como pássaros
quero o impiedoso traço
raso
que desenha um horizonte
incansável
que nos quer
o desejo é profundamente superficial
infinitamente vôo
fogo fátuo
carnaval
somente o dia
do dia é fatal

QUERO CORPO
Quero a moldura da nudez
desenhada
na parede da outra fala
como fotografia em segredo
guardada
a língua em sabor
e gosto
o cheiro macio do teu peito
pescoço
nas madrugadas
como se fosse nuvem
arcada
depois da chuva
dissipada
quero corpo para a falha
andante
cansa o sonho
a alma sem casa
Adriana Bandeira é psicanalista, membro da associação Clínica Freudiana, São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Esteve a frente do projeto de humanização de um hospital 100%SUS, na cidade de Montenegro, nos anos de 2012 a 2017. Escritora, poeta, reside na cidade de Montenegro-RS. Autora de Chá das Cinco (editora AGE- 2005), livro de contos; autora dos contos: A Empregada e As cosias de minha mãe na coletânea da AJURIS- Bestiário-2010) e do livro de poemas Escritos de Calabouço ( editora Patuá-2018). Produtora Executiva do Projeto Uai, Tchê!, show que reúne a musicalidade de mineiros e gaúchos, contribuindo com a poética do encontro, roteiros e textos do show e vídeos.