DE SÍLABAS CILADAS, DE CARLOS BADIA

Longe

Longe
a alma desce.
Tece um fio d’água.
Escorre num silêncio frio
findo qualquer pensamento nítido
lento ou rápido.

É noite.
Uma absurda voz interna,
um miado,
a rua distante, os carros
e eu perdendo sangue
sem feridas.

Prisioneiros

A atitude prisioneira do medo.
O coração prisioneiro de carências.
A opinião prisioneira de outra opinião.
A insensatez prisioneira da coragem.
A ousadia prisioneira da rebeldia vazia.
O silêncio prisioneiro da retaliação.
A força prisioneira da estupidez.
A ação prisioneira da ganância.
A beleza prisioneira do deslumbramento.
A resignação prisioneira da religião.
A notícia prisioneira do financiamento.
A fala prisioneira da arrogância.
A política prisioneira da mentira.
A benevolência prisioneira da vaidade.
O sexo prisioneiro do amor-romântico.
O olhar prisioneiro de cada geração.
O ser quando prisioneiro de si mesmo.
O impulso prisioneiro da dormência.
A dormência prisioneira na Vontade.
Casamento prisioneiro de partilhas.
A resistência prisioneira da impotência.
Estética prisioneira das épocas.
A satisfação prisioneira de um ideal ilusório no Ego.
A arte prisioneira do dinheiro.
A mente prisioneira de medicamentos.
O sucesso prisioneiro da fama.
O sonho prisioneiro de estereótipos.
A essência prisioneira dos padrões.
As ações prisioneiras de condicionamentos.
Filhos prisioneiros de pais.
Pais prisioneiros de filhos.
Heranças prisioneiras de ganância.
A decisão prisioneira da comodidade.
Trabalhadores prisioneiros de patrões.
Patrões prisioneiros de trabalhadores.
O sono prisioneiro de químicas.
O corpo prisioneiro da dor.
O prazer prisioneiro da compulsão.
A pessoa prisioneira da TV.
A pureza prisioneira da violência.
A vida prisioneira da morte.

O Ser livre:
Que possamos buscar. E encontrar.
Como Rumi se libertou.

Apenas

Carlos Badia é músico, produtor musical e agitador cultural. Fez parte do grupo de jazz Delicatessen entre 2006 e 2012, o qual deixou para lançar seu primeiro disco solo, “Zeros” (2015). Publicou Recortes on-off line (2016) e Silabas Ciladas (2017).

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POESIA

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