SELFIE DO DIABO – PATRÍCIA LANGLOIS
Numa ocasião, numa dessas noites quentes, infernais, que você fica revirando, queimando na cama sem dormir, um calor de assolar e sem uma brisa para amenizar. Quando de repente escutei um grito, corri até a janela e vi um vulto dobrando a esquina. Em seguida um bêbado atravessou a rua gritando:
– Puxei o rabo do Diabo!!! Puxei o rabo do Diabo!
Tive vontade de rir e realmente ri muito como todos da minha rua. O pobre homem foi embora, lembro como se fosse ontem. Com um sorriso torto o homem gritava todo orgulhoso de ter puxado o rabo do Diabo. No dia seguinte, apareceu morto com 3 furos no meio do peito. O povo todo dizia que tinha sido morto com o tridente do Diabo, que quem o matou era o Diabo em pessoa e que este teria espetado o garfo no Bêbado que gritou até morrer que puxara o rabo do Diabo. Aquela história rolou pelo mundo. É contada até hoje. Cada um conta de um jeito, mas a história verdadeira eu é que vou contar.
Teodoro, o bêbado, era do jogo. Como vocês sabem o jogo é coisa do Diabo, e no meio de um carteado estava Teodoro e o Capeta. Teodoro estava perdendo, quando deu um blefe de mestre, disse:
– Aposto todas as minhas fichas que você não consegue adivinhar que cartas tenho nas mãos?
O Diabo que não era bobo disse:
– Posso calcular direitinho o que você tem nas mãos. Se eu acertar, fico com todas as suas fichas e sua alma pode ser?
– E se eu ganhar vou puxar o seu rabo e contar pra todo mundo.
O Diabo aceitou a aposta e começou a lembrar todas as cartas que já tinham saído, pois o danado do Capeta era bom de memória e disse:
As cartas que você tem nas mãos são o 7 de copas e Rei de espadas
Teodoro baixou as cartas mostrando o 7 de copas e o Rei de espadas.
O diabo logo foi recolhendo as fichas sobre a mesa e pedindo a alma de Teodoro, que foi logo dizendo:
Não entrego nada. Nadica de nada, pois o acordo era acertar TODAS as cartas que eu tinha nas mãos e você seu Capeta acertou apenas as cartas quer estavam na mão direita e a carta que tenho na mão esquerda é uma carta de amor que recebi de Gertrudes, minha namorada. Ganhei eu!
O Diabo se sentiu enganado, e partiu para a briga, mas tinham outros jogadores que acabaram segurando o Diabo, mas no meio de tanta confusão o Teodoro acabou puxando o rabo do Diabo, o que o deixou mais bravo ainda com tamanho desrespeito. E foi bem nesta hora em que eu vi o vulto do Diabo dobrar a esquina. Na hora vi o vulto e depois a ponta do rabo dele e logo desapareceu.
No outro dia, no colégio, quando contei para meus colegas o que vi, fui ridicularizado, mas nada que eu dissesse acreditariam. Zombaram de mim o tempo todo. Decidi então que iria provar que era verdade custasse o que fosse. E realmente saiu caro. Fui nos quintos dos infernos para tirar uma foto do Diabo, e lá estava ele, todo cabisbaixo, sentado no meio daquele fogo todo como se adorasse o verão. Fiquei de longe e chamei :
Hei Diabo! Vinha aqui para tirar uma foto sua para mostrar para meus colegas que você existe.
Tudo bem! Se você me ajudar a pegar o Teodoro lhe dou uma foto minha que eu mesmo tirarei.
Uma selfie?
Sim uma selfie.
Trato feito.
Saí dali e fui direto para o boteco que Teodoro costumava ir e nada. Até que o encontrei saindo da casa de Gertrudes. E o desafiei para uma partidinha de truco, que era o único jogo que eu sabia, pois nos dias de chuva eu ficava no recreio do colégio jogando com os colegas. A direção da escola parecia não se importar, pois não jogávamos a dinheiro.
Teodoro louco por jogo tratou de aceitar o desafio, combinamos de jogar na casa de um amigo que morava perto e foi assim que o levei para a toca do Diabo.
Lá chegando o que vi foi algo terrível, o Diabo possuído, furioso partiu para cima do Teodoro com o seu tridente e espetou o Teodoro até a morte. Foi algo que nunca vou esquecer, ele morreu bem diante de meus olhos. O Diabo olhou bem para mim agradeceu e disse agora garoto, vou lhe dar a sua foto como o combinado, pegou uma máquina tipo de revelação instantânea e bateu a foto espetando ainda mais um pouco Teodoro. Pegou um envelope e colocou a foto dentro, deu uma lambida no envelope e o lacrou entregando para mim.
Saí dali o mais rápido que pude e fui correndo para o colégio mostrar a selfie do Diabo. A turma toda se reuniu ao meu redor. Eu todo exibido fui logo dizendo:
Tenho uma selfie do Diabo! Tenho uma selfie do Diabo!
Ao abrir o envelope tive uma surpresa, na foto quem segurava o garfo que espetava Teodoro era eu! A foto foi logo parar nas mãos da diretora que encaminhou para a polícia. A foto ainda acabou saindo nos jornais e para meu desespero todo mundo viu. Ninguém acreditou em mim, muito menos nessa história de Diabo. E o Capeta aparece aqui, nesta detenção para menores, para me visitar para um carteado e principalmente para me lembrar o tempo todo que a minha alma já é dele.
Patrícia Langlois é artista plástica, ilustradora e arte-educadora. É autora de livros para a infância e infanto juvenis, como Tudo que Couber no Coração, finalista do Prêmio AGES Livro do Ano 2014, Toc! Toc! – Quem é? e O Misterioso Caso do Parque da Redenção. É diretora do IEL – Instituto Estadual do Livro. O presente conto integra a coletânea Assombros Juvenis II.
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Parabéns Patrícia, amiga, valorosa e empreendedora e além de tudo uma moça agradável e bonita. Mereces muitos abraços. Grande abraço pelo teu Aniversário amanhã, 02/3/2020. da amiga Ivanise. Li e gostei do conto do diabo….ui! Feio ele, o diabo.. Talentosa, valendo nota 10 com louvor.
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