5 POEMAS DE ARMANDO MOURA FILHO

CORAGEM

Quero ter a coragem
De enfrentar a dúvida
Que nos faz humanos
E de conviver com o desconforto
Angustiante da incerteza,
De não me refugiar no desespero
Quando a confiança balançar,
De continuar tolerante
Quando a tolerância acabar,
De não arriscar, quando
Desnecessário correr o risco,
De não ser arrogante na vitória
Por mais contundente que ela seja,
Quero ser tão altivo
Quanto humilde, nas ocasiões certas
E na medida exata,
Quero ter força
Para manter a mão estendida
Quando você, amigo, a recusar,
Não vejo a vida como um
Jogo de azar,
Antes disso, vejo-a
Como compromisso.
Amigos, irmãos, não é fácil
Ser, mas é o que somos.

TRISTEZA

Sol, céu muito azul,
Mas a tarde desta sexta- feira
Está envolta pelo frio…
Tenho as mãos geladas,
Os dedos duros, hesitantes
Sobre o teclado;
Assim está também o coração,
Um tanto alheio, como estivesse
Ouvindo – de longe vindo – um fado;
É um dia de julho, pois de inverno,
Ensolarado, mas a luminosidade
É triste.
Triste como a solidão iluminada de Hopper.
Triste como é o fim de tarde,
Como é sempre a partida, com ou sem despedida,
Como é o sentimento de desencanto que cada vez
Mais o mundo provoca ou de impotência diante de forças que nos Dobram,
Como é o gesto de quem, inconformado, pois fez uma partida quase Perfeita,
Derruba no tabuleiro o destemido rei.
É essa mesma tristeza, revoltada e mansa,
Sempre densa, que me invade
Por não estar aqui com você,
Neste dia que tanto celebramos.

SALTO

Ainda não arranquei
Do velho coração
Um poema forte
Que fale de nossa vida
E sorte, alegria, desejo
E morte
Em ritmo crescente
Até chegar a algum cume
E de lá descer de repente
Rodando, girando, no interior
De enfurecido vórtice
Reconstruir nossos passos
Marcados nas areias e na neve
Que juntos percorremos
Sem saber se vivíamos um sonho
Ou a realidade, pois não há
Como, sem trapaça, separá-los
Um sol ardente e inflamado
Queima nossos corpos desnudos
Ergue a chama colorida do desejo
Rompe muros e diques do pudor
E dá a essa indomável força
O nome exato de amor.
Não importa que tudo acabe em pó
Pois é dele que seremos refeitos
Não pergunte como
Apenas tenha coragem : feche os olhos
E salte.

LORCA

Não estava lá,
Quem me contou foi o Carpeaux.
Os tiros que fuzilaram
O indefeso Lorca,
Provocaram assustadora
Revoada de pássaros,
Sábios, perceberam que ali
Desapareceria o encanto
E a beleza levaram
Para outro lugar,
Enquanto tombado no chão
Ficava o poeta e o melhor
Da brava Espanha.
Sabemos, porém, que
Em algum iluminado dia
Aqui entre nós de novo estarão
Pássaros, liberdade e poesia…

DIAS EM PORTO ALEGRE

Dias dourados foram aqueles
Que vivemos em Porto Alegre
Sem pressa, sem febre,
A roda do tempo girando
Em ritmo que podíamos aproveitar
A vida, o instante, o lugar…
O futuro tão distante,
Mero e quase improvável espaço
De sonhos etéreos, sem matéria
E sem aço, nada feito, nada pronto,
Apenas remotas possibilidades;
Numa palavra: um deserto
À espera de um projeto ainda sem autor.
Dor.
Assim como não compúnhamos o futuro,
( débil interrogação )
Não éramos seres pretéritos,
Não vivíamos do ou no passado,
Como fantasma desgarrado.
Éramos feitos e construídos de presença,
Calma, sim, mas intensa.
Podíamos nos definir, com generosidade,
Como p r e s e n t e s.
E tal foi essa presença
Que ainda hoje, ao ouvir seu nome,
LIA, e você não responder,
Sinto que posso erguer-me e dizer,
O que todos sabem, P R E S E N T E!

Armando Jorge Ribeiro de Moura Filho nasceu em Curitiba (PR) em janeiro de 1944, onde concluiu o colegial e ingressou na faculdade de direito da UFPR. Em 1967, transferiu-se para porto alegre e aqui concluiu o curso de Direito em 1970, na UFRGS. Depois de seleção pública, foi admitido no quadro de advogados da Rede Ferroviária Federal SA. Posteriormente, lecionou, no ensino superior, as disciplinas de Teoria do Estado e Direito Tributário. Em 1992, mediante concurso púbico, ingressou na Justiça do Trabalho, 4a região, como juiz substituto. Aposentou-se em 2001. Interessado por literatura desde jovem, tem na relação de seus autores preferidos, entre outros, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Dalton Trevisan, Sérgio Faraco, Rubem Fonseca, Raduan Nassar, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Hemingway, Carver, Salinger e Calvino. Começou a escrever, predominantemente poesia, no ano passado, quando contava com 75 anos.

POESIA

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