5 POEMAS DE EDUARD TRASTE
UMA VERDADE
tudo em mim soa assim
desagradável, sim
mas vou mentir
pra mim? seguir assim, eu
por mim desejo que meu fim
seja assim, nesta linha verdadeira
eu por mim e minha vida,
inteira.

POETA AMARELO
nasceu estranho
e virou piada
mas era bom demais
pra ser apenas piada
no fim das contas
virou poema
e morreu estranho
sem rima,
sem nada

A VERDADEIRA TRAGÉDIA
e o mundo vai ficando
suportável. problema mesmo:
acostumar-se.

FANTASCÓPIO
alongo mentalmente
para um dia imaginário
um morto feito
preparado para o Sol
que nunca chega
que lá fora brilha feito vida
imagina-se ainda
instigando aqui dentro
o ser apagado
esquecido, tolido
nas sombras
da vida, das vidas
pouco resta,
pouco resto,
transpondo paredes
nuas, nu
quero absorver
quero ser absorvido
quero sentir algo
preciso
estou cansado de ser
quem tenho
sido

MARTELANDO
feito flores na janela
entre o céu e o inferno
minha mente tem frequentado
os dois lados da mesma moeda
sem saber jamais
qual é
qual?
problema? nenhum!
os altares são similares
e tão vazios quanto os ídolos
que permanecem mortos
atrasando os pequenos seres
vivos?
no fim do dia
o sol se põe para todos
e as flores adormecem
estejam elas onde
estiverem.
Eduard Traste, coautor do livro estrAbismo (Editora Viseu, 2018), descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Escreve no projeto www.estrAbismo.net, e tem materiais publicados em periódicos diversos, entre estes: Aboio, Alagunas, Arribação, Amaité Poesias & Cia, Escambau, Gazeta de Poesia Inédita, InComunidade, LiteraLivre, Literatura & Fechadura, mallarmargens, Olho Vivo, Pantagruelista, Philos, Ruido Manifesto, Subversa, Via Lateral, Jornal Plástico Bolha e Jornal RelevO.