‘ÁLVARO’, DE PABLO MORENNO
A mãe de Álvaro tinha uma hortênsia entre a rua e a casa. A hortênsia tinha pétalas rosadas, por causa dos metais oxidados em suas raízes. A mãe de Álvaro havia explicado à tia de Álvaro, a tia de Álvaro havia explicado à filha o róseo segredo da flor: enterre metais nas raízes. Ferro e chumbo, latas, o que for. A oxidação dos metais sobe pela seiva e tinge as pétalas.
Álvaro tinha dezenove anos e um sonho. Ia matricular-se na faculdade de Medicina. Álvaro queria ser pediatra. Porque queria ser pediatra, Álvaro ia se matricular na faculdade. Porque ia se matricular, Álvaro colocou uma calça bonita, fez a barba. Disse ao espelho: vou ser o melhor médico do mundo. Para ser o melhor médico do mundo, ele precisava atravessar a rua, tomar o ônibus do outro lado, descer na frente da universidade.
Álvaro atravessou a rua. Uma bala atravessou-o. A bala atravessou seu alvo, atravessou o alvo sonho de Álvaro. A bala foi parar na raiz da hortênsia, entre a rua e a casa. Álvaro quedou-se na rubra rua.
A bala seguiu sua trajetória.
Álvaro não.
Pablo Morenno é escritor e editor de literatura para crianças e jovens. Prêmio Mário Quintana em Crônica-2006 e Poesia-2007. Seu livro Flor de Guernica foi finalista do Prêmio Açorianos de 2010 e recebeu o Prêmio Livro do Ano de 2010 da Associação Gaúcha de Escritores na categoria “Crônica”. O mesmo livro, em nova edição, foi selecionado para o Catálogo da Feira do Livro de Bolonha de 2017, pela FNLIJ – Fundação Nacional de Literatura. Recebeu o Troféu Carlos Urbim de Literatura Infantil 2018. Prêmio Cidade de Passo Fundo, poesia, 2019. 1º Lugar no 13º Prêmio IECINE Pró-Cultura RS-FAC com roteiro de curta de animação baseado em seu livro Minha Avó Tecia o Mundo. O livro também foi selecionado, em 2018, para o Acervo Básico da FNLIJ. Por que os homens não voam? Crônicas. Physalis Editora, 2020. Capa, ilustrações e projeto gráfico: Daniel Kondo. 120 páginas, 16cm x 23 cm.
🛒 Clique e encomende o seu exemplar