DE ‘CRISTAIS COLHIDOS NA NÉVOA, DE CARLOS HAHN

Infância

Na sanga, maçarico e saracura
Cipós, aroeiras e pitangas
Sinfonia de cigarras sobe a rua
Coroando, de auroras, cachoeiras

Houve um tempo em que descia o morro
Com uma ideia estampada na camisa
E o sorriso engolindo brisa
A chuva vinha e eu chovia junto
Aprendendo a esparramar o pranto sem esparro

Tempo e espaço de sobra
Para inventar o que pareça bom
Caldo e melaço de cana
Para colar cabeça e coração

Violão

Tábua de salvação na vertigem da vida
Pinho que assovia sob o fogo do peito
Abre-alas da alquimia do lamento

Alforje do espírito
Forja em seu bojo
O jongo do destino

Insônia

Sob a chibata do relógio de parede
Calou fundo na lagoa seu desejo

Na ânsia de anestesiar a mente
Canoas envoltas pela bruma
Submergiram na ribeira
Enquanto noutra margem menos turva
Uma deusa mergulhada em prata e plumas
Arrancava maravalhas à lua

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Canção de calça curta

Meu coração vai ficar lindo
Com violinos, cinco sopros e um tambor
Para bater no fim da rua e deixar rindo
A mulher que se arrepia em meu abraço sonhador

Enquanto a lágrima escorrega na garganta
Preservo em mim todo o sabor desse poema
Enxugo máximas e rimas encharcadas
E esmerilho o estribilho desse samba sem esquema

Sem condições

Ante a aparente vacância divina
Um ateísmo de novo tipo povoaria
A Terra consumida por legiões desesperadas

Os seresteiros saberiam
Serenar as madrugadas

Um sibilar medonho
Ecoaria pela gleba

Toda alegria aterraria
Qual cristal ofuscante
Imensa ameaça

Necessário seria
Desinventar as sereias

Carlos Hahn é jornalista e trabalhou nas redações dos jornais Correio do Povo, Jornal do Comércio e Zero Hora. Foi editor da revista digital ZoomRS, destinada à divulgação da música produzida no Rio Grande do Sul. Além de servidor público da Defensoria Pública do RS, dedica-se atualmente a trabalhos de produção e edição de vídeo. Músico, tem seu trabalho autoral publicado nas principais plataformas e lançou recentemente o clipe da canção Bugiganga – https://www.youtube.com/watch?v=fL-oeAxcYxo

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POESIA

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