ORIGEM DOS NOMES DOS MUNICÍPIOS GAÚCHOS E SEUS DISTRITOS – JACY WALDYR FISCHER
Nomes estranhos de lugares despertam a curiosidade de muitas pessoas. Qual teria sido a sua origem? O que significam? Se fizermos essas perguntas para um morador da localidade, geralmente, poucos terão uma resposta. Os “eruditos” locais muitas vezes virão com uma interpretação fantasiosa. O pior é que esssas interpretações são passadas adiante e acabam sendo consideradas verdadeiras.
A interpretação fantasiosa do topônimo Viamão é bastante conhecida. Quem já não ouviu dizer que ele vem de “Vi a mão”? A mão seria composta por cinco rios correspondentes aos dedos vistos de uma certa altura. Arsène Isabelle, em sua Viagem ao Rio Grande do Sul (1833- 1834), diz: “Viamão, porque da elevação sobre a qual está situada essa vila, vêem-se os cinco rios que reúnem suas águas diante de Porto Alegre, formando como uma mão aberta, da qual o Jacuí seria o polegar e o Riacho o mindinho”. Os outros rios seriam o Caí, o dos Sinos e o Gravataí. Observe-se, porém, que não existe elevação alguma na região de onde se possa ver a tal mão. Já houve quem dissesse que seria do alto da igreja… Essa versão da “mão” disseminou-se de tal maneira que podemos encontrá-la na História geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen; na Enciclopédia dos municípios brasileiros, do IBGE, citando Guerreiro Lima; na Descrição corográfica, política, civil e militar da capitania do Rio Grande do Sul” (manuscrito datado de 10 de setembro de 1804), de Domingos José Marques Fernandes, in revista Pesquisas, 1961; no Dicionário etimológico (nomes próprios)”, de Antenor Nascentes e em Nomina geographica (1893), publicação alemã de autoria do Dr. J. J. Egli, entre outras.
Inúmeros são os topônimos que têm a sua etimologia popular. O antigo Passo do Feijó, quando se emancipou de Viamão, adotou o nome de Alvorada. Conheço duas versões para explicar esse nome. A primeira faz referência ao fato de na sua época muitos moradores trabalharem em Porto Alegre e, praticamente, só dormirem nesse novo município. O nome seria para lembrar um toque de alvorada para os trabalhadores. Outra, que o nome teria sido escolhido para que o município recebesse logo as verbas estaduais e federais, visto elas serem distribuídas observando ordem alfabética… Para Capitão, município emancipado de Arroio do Meio, existem, também, duas versões. Uma diz que provém de capitão de cerca, ou seja, o tronco mestre de uma cerca, e outra diz que durante a revolução de 1893 aí teria sido morto um capitão que estava trepado em um tronco de erva-mate.
O município de Caseiros deve o seu nome à Colônia Militar de Caseros, aí fundada em 1859. O nome era uma homenagem à vitória do Exército Aliado na luta contra o ditador Rosas, em 1852, na localidade argentina de Monte Caseros. O nome foi aportuguesado, em 1939, para Caseiros. Bastou isso para que surgisse a versão dizendo que o nome era uma referência aos soldados que ficavam na colônia, os ”caseiros”, enquanto outros partiam para tarefas externas.
Capão do Leão é outro município para cujo nome há uma versão fantasiosa. Diz ela que o nome surgiu depois que o leão de um circo fugiu para um capão aí existente.
O município de Não-Me-Toque tem pelo menos duas versões fantasiosas. Ei-las: o alferes Rodrigo Félix Martins, em 1850, conseguiu uma grande área de terras devolutas na região, dividindo-a em fazendas. Mais tarde começou a vender algumas dessas fazendas mas, quando alguém interessado lhe perguntava pela Fazenda Invernada Grande, o alferes retrucava nervoso: “Não me toque naquela invernada, pois essa não tem preço e não está à venda”. Devido a isso, o local teria ficado conhecido como “Não me toque”. A outra versão diz que na região havia uma espécie de orquídea muito sensível, cuja flor murchava ao ser tocada, daí ser conhecida como “Não me toque”.
Os topônimos provindos do tupi e do guarani prestam-se às mais estapafúrdias interpretações. Alguns exemplos de nomes de municípios servem para que se veja como funciona a etimologia popular.
Aceguá, município emancipado de Bagé, possui uma interpretação envolvendo a língua espanhola. Diz ela que aceguá é o lugar onde “el zorro hace guá”, isto é, lugar onde o graxaim solta a sua voz característica, onde ele faz “guá”.
O município de Paraí possui três versões populares. Todas elas dizem que o nome provém de uma ordem destinada a parar. Igualmente, todas têm como protagonista Henrique Lenzi, colonizador da região e comerciante em Nova Prata. Em 1º de setembro de 1912, após uma forte nevasca, os trabalhos de medição de terras que estavam sendo feitas pelo agrimensor Sizínio Kursel, acompanhado de Henrique Lenzi, tiveram que ser interrompidos. Por sugestão de Lenzi, seus acompanhantes concordaram em batizar o lugar com o nome de Para-aí, o que correspondia à situação do momento, isto é, parados e imobilizados pela abundante neve. Outra versão diz que Lenzi, verificando terras que fazendeiros lhe ofereciam, ao chegar ao divisor de águas dos arroios dos Gordos e dos Lucas, se ofereceu a seus olhos o lindo panorama do vale deste último. Teria, então, exclamado: Para aí, que queria significar “basta, as terras que estou vendo me agradam. Posso comprá-las”. A terceira versão diz que Lenzi estava demarcando, com o agrimensor João Lúcio, as 120 colônias que havia comprado, quando se apresentou um homem de nome ignorado, para defender suas terras, dizendo aos trabalhadores: “Para aí”.
Tuparendi também tem, entre outras versões, uma que diz que o nome originou-se de uma moça que se chamava Endi, residindo nessa localidade, e que tinha o espírito de sempre querer fugir de casa. Eis que outros moradores da região, quando a viam em fuga, diziam: “Tu para, Endi”. Para Gravataí, que significa “rio dos gravatás”, existe uma versão jocosa. Um casal de namorados estava em carinhos meio audaciosos quando o pai da moça entrou de repente na sala e, diante da situação, exclamou: “Mas o que é que é isso”?. O rapaz que estava se abotoando (não se usava zíper nas calças daquela época), tentando disfarçar, gaguejou: “É que estou arrumando a minha gravata”. E o pai da moça: “Gravata, aí?”
Jacy Waldir Fischer é nascido em Santo Ângelo em 1928. Foi professor de técnicas agrícolas no Ginásio Senador Pinheiro Machado e na Escola Municipal Liberato Salzano. É também membro da Sociedade Partenon Literário.
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Infelizmente a edição é já esgotada:
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Boa noite … gostaria de adquirir um exemplar, onde encontro?
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Onde encontro um exemplar desse livro? está esgotado no site da editora… existe outro lugar pra encontrar? Ou até mesmo em PDF?
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