Por Anna Mariano

“Os degraus a subir são trinta e seis, trinta e seis degraus de pedra, que o velho sobe devagar, com circunspecção, como se recolhesse um a um para conduzi-los ao primeiro andar: ele pastor, eles animais mansos. Modesto é o seu nome. Serve naquela casa há cinquenta e nove anos, portanto é o sacerdote ali.“

Assim começa A Noiva Jovem – um livro descrito por Alessandro Baricco, seu autor, como sendo 20% García Marques, 20% Lampedusa e 60% Baricco – uma narrativa onírica e erótica que encanta pela linguagem poética e uma magistral técnica narrativa.

Modesto é o mordomo da casa, o único a ter nome, os demais são apenas o Pai, a Mãe, o Filho, a Filha, a Noiva Jovem, o Tio, a Mulher Elegante. A ausência de nomes não é gratuita, ela define a posição social dos personagens – trata-se de uma família tão conhecida que não necessita de nomes – e os coloca acima das convenções, os faz reféns de antigas práticas, tradições e segredos familiares, que formam a história.

Prosa poética? Ensaio filosófico? Reflexão sobre as diferenças de classes? Lição sobre o desejo? Pouco importa. Esse romance extrapola o gênero e encanta por suas reflexões, seus contornos inovadores e seus truques literários tão bem elaborados que não os vemos chegar, quando os percebemos é tarde, já nos tornamos cúmplices da maestria do autor. Com diálogos ágeis, a sobreposição habilidosa de narradores − às vezes dois ou três num único parágrafo –, um erotismo marcante, inesquecível e feminino, A Noiva Jovem é um livro que se lê com assombro, quer o façamos desarmados, como simples leitores, gozando apenas o prazer da narrativa, quer optemos por uma forma mais cuidadosa de leitura, a dos escritores.

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FICÇÃO ALESSANDRO BARICCO Anna Mariano