‘CARTA À RAINHA LOUCA’, DE MARIA VALÉRIA REZENDE
Por Roberto Schmitt-Prym
O ano de 2020 foi certamente atípico: as editoras publicaram menos, a Bestiário, a metade das edições do ano anterior, mas por outro lado, as vendas, talvez em função da maior disponibilidade de tempo para leitura durante as restrições decorrentes da pandemia, foram boas e alavancaram as vendas on-line.
A editora Bestiário teve a oportunidade de publicar algumas obras importantes: POEMAS DO JAPÃO ANTIGO, seleções do Kokin’wakashû, de Andrei Cunha, na qual o “Prefácio em hiragana”, de autoria do grande poeta e editor Ki no Tsurayuki, é visto por muitos como um “equivalente japonês” da “Poética” de Aristóteles; DIAS LENDÁRIOS, UM ROMANCE GEEK SOBRE SALVAR MEMÓRIAS, do professor de Escrita Criativa Bernardo Bueno, no qual, os capítulos principais se alternam com reviews de games e seções interativas escritas em linguagem de programação, inspirado em livros como “A fantástica vida breve de Oscar Wao”, de Junot Díaz, nos contos de Jorge Luís Borges, em “Microserfs”, de Douglas Coupland, e em “Cidades Invisíveis”, de Ítalo Calvino.
Das minhas leituras durante a reclusão, um destaque: CARTA À RAINHA LOUCA, de Maria Valéria Rezende, um romance que vinha sendo pesquisado e escrito desde 1982, depois de uma viagem à Portugal. A história é impressionante: uma senhora mantém, na região das minas de ouro no Brasil, uma casa para acolher mulheres desgarradas do sistema colonial, as “sobrantes”, que não serviam para casamento porque não tinham dote, nem para escravas porque eram brancas. Eram uma espécie de descarte do sistema, que não sabia o que fazer com elas. A história é trágica, mas com certa dose de humor. A narradora escreve à rainha dona Maria, em Portugal, para informá-la sobre os infortúnios das mulheres na colônia, o que certamente remete também ao infortúnio de muitas mulheres no Brasil atual.
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