‘EQUADOR’, DE MIGUEL SOUSA TAVARES

Por Claudio Corrêa Noronha

O autor, Miguel Sousa Tavares, é segundo filho do advogado, jornalista e político português Francisco de Sousa Tavares e da escritora e intelectual Sophia de Mello Breyner Andersen. Esta é considerada a maior poeta portuguesa de todos os tempos; ganhadora do Prêmio Camões, teve, postumamente, seus restos mortais transladado para o Panteão Nacional, tendo sido também homenageada com a pintura de seus versos sobre o mar, foco da sua poesia, no Oceanográfico de Lisboa. Nascido em berço de letras, o escritor é autor de diversas obras, tendo várias publicadas no Brasil, mas a que, sem dúvida, alcançou maior sucesso foi Equador, de 2003.

Fruto de uma cuidadosa pesquisa histórica, o romance envolve o período de 1905 a 1908. A manutenção do império ultramarino português começava a dar sinais de exaustão e as ações passam-se em boa parte do seu tempo nas possessões equatoriais portuguesas de São Tomé e Príncipe.  Questões envolvendo uma modalidade de escravatura velada, praticada pelos colonos portugueses e disputas de mercado entre os mesmos produtos cultivados pelos britânicos no Caribe fornecem o pano de fundo onde desenvolvem-se as ações. Um narrador onisciente encarrega-se de contar a história onde destacam-se três personagens; o português nomeado pelo rei para governar essas possessões no Equador; o cônsul inglês que recebera uma espinhosa missão nestes confins do mundo, à época, como castigo por episódios nos quais se envolvera na Índia e sua bela esposa.

Descrições cinematográficas de cenários e paisagens, intimidade com hábitos e costumes locais da ocasião, decorrentes do apurado estudo bibliográfico que antecedeu a escrita e sensibilidade para dosar este conjunto de informações, impedindo que o leitor se canse ou perca o eixo da narrativa, dão a este livro características únicas. Dificilmente alguém será tentado a pular trechos por qualquer razão que seja e suas 520 páginas são sorvidas lentamente como um bom vinho.

A apurada técnica que utiliza de ganhar a confiança do leitor pela verossimilhança empregada, deixando ao mesmo tempo pairar uma tênue suspeição de que tudo não foi contado é magistral. Após sua leitura é interessante perguntar a leitores que ainda se encontram a meio caminho sobre suas impressões. Dificilmente encontraremos duas respostas idênticas, o que bem atesta o sucesso deste jogo de mostra/esconde que o autor logra obter durante o decorrer dos capítulos.

Miguel Tavares imprime um ritmo à obra que só os grandes romancistas conseguem fazer. O surrado clichê que descreve os grandes livros como grudentos e a já conhecida técnica de ir diminuindo o ritmo de leitura para que o romance demore a terminar, tal o encantamento que consegue produzir no leitor, estão presentes nesta obra. Publicado no Brasil pela Companhia das Letras teve na versão brasileira o posfácio escrito por Lilia Moritz Schwarcz e em 2019 já estava na sua 7ª.reimpressão.

Leia mais do autor em Sepé.

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