Por Bebeto Alves
Eu andava preocupado por que não conseguia mais manter meu habito de leitura, ou de ler um livro que fosse substancial, que me chamasse a atenção e que fizesse eu “perder” o meu tempo. Lendo cada vez menos livros, mas lendo tudo o que passa na minha frente, na tela do computador principalmente. Por uma casualidade, em um consultório dentário, encontrei um texto que me chamou a atenção em uma revista Piauí – Déficit de Atenção – assinado por Geoff Dyer, romancista e ensaísta inglês contemporâneo.
Nesse texto, sobre a crise na leitura, encontrei um pouco de conforto. Muitas citações sobre o hábito de ler ou a perda dele. Mais que um hábito, na verdade uma atividade. Fala de tantos livros nas prateleiras o esperando e um pensamento de que não há nada para ler. Cita Pessoa, o Livro do Desassossego “inútil e angustiadamente entre a inatenção à paisagem e a inatenção ao livro que me entreteria se não fosse outro”. Segundo Geoff, um intelectual seria o leitor com um lápis na mão, o que nunca fui. Conclui que os livros seriam decisivos para que alguém se tornasse quem deveria ser. Fala que a interioridade subjetiva com o passar do tempo passa a ser autogerada ao invés de ser produzida pela leitura, e que ao contrário de quando se é jovem e os livros são parte da construção, num outro estágio da vida representa um incremento marginal à soma dos seus conhecimentos.
Eu me dei por satisfeito e me permiti um pouco de paz. Mesmo assim continuo apaixonado pelos livros e pela leitura. Mas o que provoca hoje o interesse por um coisa ou outra? Por um texto, por um assunto, por um titulo? No meu caso, a praticidade de aprender uma nova linguagem, uma nova forma de ver o mundo, algo que me tire do conforto e me traga uma sensação de estar aprendendo, ou descobrindo novos eus em mim.
Foi assim que procurei com certa apreensão o texto do *Ailton Krenak – Ideias Para Adiar o Fim Do Mundo. Na prática um novo ângulo de observação, uma nova ideia sobre o que somos como civilização ou como ideia de humanidade, que, aliás, segundo Krenak não somos uma, mas sim diversas. Não somos todos iguais, essa é máxima do escritor, O Antropoceno, a nossa era, apontada por Krenak esta na origem do desastre: quando não se reconhece aquele rio, uma necessidade de exploração, uso e morte, como um parente vivo, talvez um avô. O tempo é hoje e é o nosso futuro em construção. A escrita de Ailton Krenak nos dá uma sensação de inteireza, do que estava nos faltando, um pouco além da linguagem, a vida in natura, originária, como nunca entendemos, como nunca aprendemos, até então.
* Líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro. É considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional. Pertence a etnia indígena crenaque. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2016). Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, oferecido pela União Brasileira de Escritores (2020).
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