‘LEONEL BRIZOLA – A HISTÓRIA O HISTORIADOR ‘, DE GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS

Por Elaine Tavares

O ano de 2020 foi  “uma merda mesmo” como diria uma fazedora de carrancas lá da beira do São Francisco ao ser perguntada sobre a vida. O coronavírus nos jogou num turbilhão de confinamento e desespero, não tanto pela doença em si, mas por saber que no comando da Saúde estão os sinistros bolsonaristas. Poderia ter sido um bom momento para ler bastante, mas não foi. Eu, que cuido do meu pai que tem Alzheimer, mal tenho tempo para isso. O cuidado exige. Mas, ainda assim, por deformação de personalidade  – não sei viver sem um livro – acabei encontrando espaços de respiro, que me permitiram algumas leituras prazerosas.   

Uma delas, da qual lhes comento, é o livro de Gilberto Felisberto Vasconcellos, um homem pelo qual eu tenho profundo amor. Intelectual herege, cabeça fervente, ele é muito pouco citado nas universidades e afins. Mas já tem uma obra de peso, com mais de 40 livros. É um autor que se importa com a cultura nacional, com a vida do país, com a energia dos trópicos, é um homem solar, um filho da biomassa, nacionalista de valor.

Pois seu mais recente livro – o qual lançou digitalmente por não ter editoras interessadas no seu trabalho – é sobre o grande Leonel Brizola. Gilberto defende a tese de que o político gaúcho não apenas foi história nesse imenso país, como também acabou sendo ele mesmo um historiador, tal qual Lênin ou Trotsky.  Neste trabalho, com menos de 200 páginas, Gilberto conta sobre a vida de Brizola, mas não à maneira como já se escreveu de sua biografia. É uma escritura nova, vibrante, grandiloquente, arrebatadora, típica do grande Giba. É uma narrativa que desvenda o Brizola não/dito, mal/dito pela mídia e outros quetais. O Brizola anti-imperialista, anticapitalista, o Brizola da revolução, o que nunca abandonou sua gente, nem nos anos 1960, nem depois. O Brizola que queria um país de meninas e meninos educados para a liberdade.

O livro é ainda uma crítica contundente a vidiotização das gentes pela lógica da telenovela,  a financeirização da vida, a incapacidade de leitura do mundo. É também uma crítica aos partidos políticos e à esquerda liberal, até hoje incapazes de compreender a grandiosidade do velho Leonel.  Passeia pelos grandes autores com a tranquilidade de quem conhece de verdade a realidade. Mistura Europa, América Latina, Brasil, macumba e sol, com a genialidade de quem é um devorador contumaz das coisas da cultura e da política.

Ler esse livro do Gilberto é caminhar na história com outro olhar, enxergando o que está por trás dos fatos, compreendendo os cenários, sentindo os cheiros, os gostos, abrindo a cabeça para o trabalhismo real, para a revolução brasileira, morena, como diria Brizola. É uma montanha russa, uma metralhadora giratória, que vai e vem na história e que nos convoca a única tarefa possível: a revolução, que só virá quando superarmos a ideia de que a vida é uma grande telenovela com final feliz.

Gilberto, ao dissecar a vida de Brizola, mostra que o final feliz não está dado. Ele deverá ser uma construção dos trabalhadores e trabalhadoras verdadeiramente nacionalistas/anticapitalistas e anti-imperialistas. É uma leitura agalopante, apaixonante. Brizola e Gilberto. Dois “monstros” da cultura nacional.

Leia mais da autora em Sepé.

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