‘MORTE SUL PESTE OESTE’, DE ANDRÉ TIMM (2)
Por Daniel Gruber
De todas as boas leituras que fiz este ano, uma das que se destacaram recentemente foi Morte Sul Peste Oeste, segundo romance de André Timm, lançado pela Editora Taverna. O livro é um tour de force pelo pedaço de vida de dois personagens em permanente trânsito, à margem de uma sociedade desigual, bruta e indiferente.
Pelo ponto de vista de Dominique, um imigrante haitiano, e Brigite, uma transsexual adolescente, conhecemos o mundo árido que intuímos existir lá fora, longe de nossa vida privilegiada, mas que poucas vezes sentimos enquanto leitores.
As vidas desses personagens se encontram em fugas desesperadas e encontros cheios de redenção, perigo, afeto e amizade. Estrangeiros na própria terra ou no próprio corpo, eles nos carregam pela mão por frigoríferos, ruas escuras e estradas alheias à lei, lugares onde não costumamos enxergar, fazendo brotar a humanidade onde não estamos acostumados a encontrá-la.
Oscilando entre uma linguagem crua e precisa quando quer denunciar, mas sensível e humana quando quer nos aproximar, Timm faz uma literatura contundente, que se lê num fôlego e permanece com o leitor muito tempo depois de acabar. Como um funil de desesperança, que une na ponta o destino dessas personagens, somos literalmente forçados a ver — pela plasticidade visual contida na escrita — o mundo que os rejeita como se fossem corpos estranhos num organismo que nunca quer se admitir doente.
A prosa cirúrgica, delicada e por vezes poética de Timm nos move por cenários que ganham cores próprias, cheiros, calor e textura. Por vezes a letargia confusa de Dominique nos paralisa, enquanto o ímpeto feroz de Brigite nos move, nos faz querer avançar, correr, brigar, buscar seus desejos à força. Queremos abraçá-los, chorar junto, fugir na carona do seu caminhão. Morte Sul Peste Oeste é um romance forte, maduro e que capta com sensatez o espírito deste ano tão terrível.
🛒 Clique e encomende o seu exemplar
Sepé 