‘MORTE SUL PESTE OESTE’, DE ANDRÉ TIMM
Por Davi Koteck
Talvez alguma força estranha explique o magnetismo que atrai os dois personagens distintos, mas ainda sim similares, na trama de “Morte Sul Peste Oeste”, (Taverna, 2020). Dominique é um imigrante haitiano que, por designo, desponta numa Santa Catarina que promete trabalho e acolhimento, mas entrega uma das mais racistas, exploratórias e xenófobas regiões do Brasil. Brigitte é uma menina transexual de treze anos já desgastada pela vida, ainda buscando entender o pequeno espaço que ocupa no mundo, enquanto ao mesmo tempo sobrevive no caos do seu entorno: a relação problemática com a mãe e abusiva com uma espécie de namorado.
É nas margens dessa Chapecó traiçoeira, marcada por milícias anti-imigrantes, relações familiares vertiginosas e uma atmosfera que a todo o momento parece prestes a estourar que André Timm transporta o leitor para onde ele deseja ir: uma jornada breve, em que os dois personagens de realidades opostas, cheios de carne, se unem por uma atração simbiótica, como se esse encontro fosse mesmo à única possibilidade para o romance. Ali estão dores e finalidades de existências escondidas, de modo que o autor quase implora em silêncio: unam-se.
Em seu primeiro romance “Modos inacabados de morrer”, (Oito e meio, 2016), Timm também explorou uma Santa Catarina longe do litoral e personagens que apresentam alguma forma verdadeira de deslocamento. Aqui, no entanto, há uma significante ressonância desse deslocamento que agora aparece justamente quase como terceiro personagem da obra. Tudo isso explorado por uma voz limpa em terceira pessoa. Um texto econômico, sagaz e aproximado, todavia respeitando os limites de interioridade necessários que tornam tão singulares Dominique e Brigitte. “Morte Sul Peste Oeste” é um livro que impressiona não só pela agilidade narrativa e condução literária, mas também por ser uma história urgente, sobre pessoas que não têm histórias contadas.
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