‘POEMAS DO JAPÃO ANTIGO’, DE ANDREI CUNHA
Por Sidnei Schneider
O nome completo do livro é Poemas do Japão antigo, seleções do Kokin’wakashû (Class, 2020),com tradução, ensaio introdutório e notas de Andrei Cunha, professor de Língua e Literatura Japonesa da UFRGS. Reúne 165 poemas, amostra da segunda mais antiga antologia do Japão, originalmente com 1.111 poemas, compilados no século X. Quase todos são do tipo tanka, ou seja, um waka de única estrofe, com 5-7-5-7-7 sílabas, já conhecido por aqueles que se aventuraram a estudar o haikai e podem “vê-lo” nos três versos iniciais. Belamente ilustrado, traz os poemas em português, japonês e ainda a transliteração, para que se possa perceber sua sonoridade.
Quem já ouviu falar do famoso Prefácio em Hiragana para o Kokin’wakashû, do poeta Ki no Tsurayuki (868-945), sistematização com algum paralelo à Poética de Aristóteles, terá a alegria de lê-lo, ao que eu saiba, pela primeira vez em livro no Brasil. Tsurayuki, um de seus poemas, tenho-o bem presente, ainda que não oriundo dos livros de Andrei, quase um amuleto. Eu disse livros, no plural, porque ele também traduziu, em moldes semelhantes, Cem poemas de cem poetas (Class, 2019), do século XIII, outra antologia fundadora da poesia nipônica.
Andrei está mergulhando no passado, será que podemos esperar pela tradução do Man’yôshû, a antologia mais antiga, do século VIII? Geny Wakisaka, do Centro de Estudos Japoneses da USP, publicou no seu Man’yôshû, vereda do poema clássico japonês (Hucitec, 1992), exaustiva apresentação histórico-social e constitutiva da antologia, mas apenas dez poemas traduzidos.
Surpresa grande foi ler sobre kakekotoba, a palavra pendurada, em relação com outra. Por décadas, para mim, era algo que se dava numa única palavra, que trazia dentro de si outra inscrita e audível, ampliando, pela duplicidade, a leitura. E não, como explica o livro, entre duas palavras de versos diferentes, homófonas ou semi-homófonas. Nunca esqueci a definição, a passagem de uma palavra por dentro de outra deixando nela o seu perfume, mas devo ter entendido mal. Ao menos, escrevi vários kakekotoba com outro entendimento, usufruindo da contribuição milionária de todos os erros.
A antologia é dividida em eixos temáticos e traz poetas homens e mulheres. Por fim, um tanka de Ariwara no Motokata (séc. IX-X), Quando a primavera começou antes do Ano Novo, que não é título, mas indicação supostamente real de algo que motivou o poema: nem é Ano Novo/ e já veio a primavera/ será que estamos/ no ano passado? ou/ no ano que vem?
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