3 poemas de Giulia Barão
A pedra
Se eu fosse uma pedra
presa a uma parede marítima
teria sentido o desejo
de me soltar e sair correndo
sem destino, mas contracorrente
e também o medo
de afundar no esquecimento
e também o peso
de abandonar um continente.

O rio
Quisera esfacelar meus ossos
sem morrer
e sair pelo mundo
arrastando-me, sem pressa
toda sangue e biomassa
amorosa, parece
que a doçura é líquida
e o coração tem sede
de iogurte, smoothie, sopa.
Quisera esquecer o esforço
de manter-me ereta
imitando as torres
as árvores, senhores, quisera
desfazer o sentido vertical
de ter nascido
e correr pelo mundo
como um rio de planície
toda água doce, preguiça e lodo.

O mundo
Encontrar alguma coisa
onde estou sempre medida
e ninguém conhece a soma.
Onde o corpo é dentro e fora,
encontrar algo que me espera
e dói doce, como se nascesse.
Talvez seja o mundo, esse medo
de que digas meu nome
e eu permaneça.
Giulia Barão é bacharel em Relações Internacionais (UFRGS), Mestre em Letras/Escrita Criativa (PUCRS) e em Estudos Latino-Americanos (USAL, Espanha). Sua obra poética navega entre o português e o espanhol e prefere ser lida em voz alta. Em 2016, lançou o zine “Antes que Saturno volte”, em parceria com o selo Músculo. Atualmente é funcionária do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como um dia o foi Drummond. À diferença deste, tem encontrado dificuldades em conciliar burocracia e poesia, mas espera seguir escrevendo e respirando fundo.
