feita de cantos livres
mesmo nas horas frias
um pedaço de pedra
medrado de poesia
longe de deus e o mundo
tão perto das aguadas
deleitar de delírios
cios de passarada
risos e super novas
rosas, mitologias
guia de não sei onde
longe de já ser dia
música analfabeta
feita de letra pouca
graves estrelas riem
luas e aqualouca

Que idade tem a alma
Da criança que nasceu?

Quantas células se agitam
Nesse corpo que morreu?

Quem existe quando sonho
A borboleta que sou eu?

Que mistérios me refletem
No espelho desse céu?

Porque fico sempre sério
Quando olho o império
Das lápides carcomidas?

Que ferida não me dói
Na película da vida?

Que alegria não me eleva
Que harmonia não me acalma
Que beleza não me cega
Que amor não me comove
Quando chove, quando chove?

falei desemendado e dementei.
meus olhos sonhando águas de lobisomem.
tentava recriar a madrugada no mar com cracas de lodo das pedras.
o Cerrado comia meus restos de Atlântico na mata retorcida.
eu estava presa de tempo e espaço,
costurando o lado de dentro.
por fora ainda recolhia assombros
e bosta de borboletas. Disputávamos,
de dezembro a abril, o perfume escandaloso das goiabas. Insetos venciam por asas.
só o vento não era igual a nada
e ensinava até cisco a dançar.
carrapatos abriam flores na minha pele
tornando o corpo um jardim de lástimas.
no espelho intuía que os amores tinham a cara de um bule com moscas.
macacos gritavam meu nome na mata
provando que eu era uma mistura de azul
e substantivos carcomidos por ferrugem.
a tristeza era desmazelo antigo – Não lavei e encardiu. Cresceram em mim umas escamas sujas de poesia besta.
do dia só sei a mula que trabalha e sua.
eu ando muito cascalho.

Violeta Rivero é astróloga, agrimensora e olhadora dos lugares. Tem publicado por aí, às vezes com esse nome e às vezes não.

POESIA Violeta Rivero