5 poemas de Luiz Renato de Oliveira Périco
POEMA TIRADO DE UMA PALESTRA
Inventamos
A bicicleta
O carro
O avião
O tombo de bicicleta
A batida de carro
A queda de avião

A vida não tem nada a ver com a morte
E a morte não tem nada a ver com a vida
A vida não tem fim, é interrompida
E a morte é essa fratura, é esse corte
Não partimos – a vida é que é partida

CICLO
O terminar é ter durado,
E perdurar é um processo
Que sempre acaba terminado.
Esse é o ciclo material:
Tudo acabou desde o começo,
Tudo durou desde o final.

não tirem fotografias
não há nada que mereça
mais que menos de um segundo
e que não desapareça
não há nada que mereça
pouco menos que o momento
fotos apenas preservam
o desaparecimento

CINEMA MUDO
Um céu de Méliès iluminava
A madrugada insone sobre nós:
A agitação do céu nos agitava
Na noite quieta, estando nós dois sós.
A calada da noite nos falava
Coisas que ninguém ouve a plena voz.
Tomamos o silêncio como lema.
O mundo era uma cena de cinema.

Somos contemporâneos dos já mortos
Até que os mortos sejam mesmos nós.
A história corre rumo ao seu passado –
Passado é o que seremos no futuro.
Luiz Renato de Oliveira Périco (1983 – Jacarezinho/PR) é bacharel em Letras pela FFLCH-USP e em Direito pela FDUSP e vive em São Paulo/SP. Autor do livro Forma Amorfa (Viv Editora, 2021) tem poemas publicados nas revistas Lavoura, Toró, Ruído Manifesto e Mallarmargens. Divulga seus poemas no Instagram @lroperico.
