5 poemas de Luize Gomes
Idas e vindas
Em intervalos de tempo
perco-me
perco-me de tal maneira,
que chego a sentir o gosto
de poesia do meu deserto
em minha boca
Em intervalos de tempo
perco-me
Quando menos espero
sem mais nem porquê
volto
volto de tal maneira,
que chego a desdenhar
de quem sem saída, se foi.

Em raros dias de neutralidade interna
de ser limpo, que não tem pretensão de ser
sinto o frescor de todas as coisas
a vida de quem não vive
e a cidade girando lentamente:
ideias repousando.

Velha de nascença
Nasci velha
tentando desgraçadamente enfincar
minha trêmula bengala no chão
tentando aprumar-me e não conseguindo.
Nasci velha
carregando o gosto da poeira dos caminhos
na boca,
nos olhos o cansaço de quem sente
o pulsar e o não pulsar de todas as coisas,
e nas costas, toda a dor do mundo.
Mora em mim um cansaço existencial
que há de perdurar até a quinta geração.

Labirinto
Bocas sujas
Almas obscuras
Olhos perdidos
Viro rapidamente, mudo a direção
Bocas sujas
Almas obscuras
Olhos perdidos

Há um estado de ensaio
na poesia
sempre inacabado
sempre buscando a dimensão
de comportar o que sente.

Perto demais
É preciso ser muito especial
para resistir ao perto demais:
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Avante?
Nascida em uma manhã do dia 08 de junho, em Currais Novos, na região do Seridó do Rio Grande do Norte, Luize Gomes descobriu o poder das palavras por meio da música, e começou a escrever na adolescência, movida por um sentimento de inadequação. Escrevia como quem procurava um lugar para ficar, para morar. O gosto pelas palavras levou-a ao curso de Letras em Língua Portuguesa e Literatura (UFRN), concluído no ano de 2015. Têm poemas publicados em algumas antologias, são elas: Histórias que se cruzam (2015); Folha Poética (2019); Poetize (2020); O Livro das Marias II (2020); Simpósio de poetas bêbadxs (2021) e O Livro das Marias III (2021). Escreve por necessidade.
