BARÃO DE ITARARÉ: UM RIO-GRANDINO, por Newton Alvim
Sempre acompanhei com algum ceticismo aquela surrada máxima de que “santo de casa não faz milagre”, mas sou obrigado a concordar com ela diante da trajetória de Aparício Torelli, o afamado Barão de Itararé. Pois a vida desse pioneiro do humor brasileiro começou justamente em terras gaúchas, ao nascer dentro de sacolejante carruagem que perdera uma roda no trajeto entre a fronteira que liga o município de Rio Grande e o Uruguai.
Um início realmente digno da sua vida de estrepolias e aventuras. Apesar da polêmica sobre o local exato do nascimento, muitas fontes citam o município de Rio Grande. Assim, o Barão seria, por força das circunstâncias, um rio-grandino de lei. Ou na amplidão que nos orgulha, um gaúcho.
Nascido a 29 de janeiro de 1895, o Barão não teve homenagem à altura como uma figura realmente importante da imprensa alternativa e pai do humorismo brasileiro. Constato isso após morar um ano e meio em Rio Grande, onde me fiz caminhante em incontáveis avenidas, ruas e travessas. Nessa cidade cercada por água doce nunca alguém deu-me afirmativa de conhecimento ou orgulho sobre esse que foi um frasista genial, ironizou as elites, criticou a exploração dos trabalhadores e governos autoritários, sempre com grande coragem e imbatível humor.
Posso estar enganado, mas não vi nada na cidade de Rio Grande que lembre ou homenageie o Barão. Nem uma ruazinha torta ou uma pracinha mal-cuidada de periferia tem o nome do combativo jornalista. O mesmo nome que o fez personagem famoso e diante do qual, até hoje, o povo brasileiro aprendeu a esboçar um leve sorriso ou a soltar uma estrondosa gargalhadas pelas frases irreverentes e não raro mordazes contra governantes tirânicos e fazedores de mazelas sociais.
Penso que alguma homenagem deveria ser esboçada em Rio Grande ou na região do Chuí, onde se originaram seus laços familiares. Penso que valeria a pena somente pela evocação desse que foi jornalista, poeta, teatrólogo, matemático, cientista, político e principalmente humorista. O mesmo Barão que, cansado de apanhar da polícia do Estado Novo, colocou na porta do seu escritório a frase “Entre sem bater”.
Pois esse era o Barão que elegeu-se vereador pelo Rio de Janeiro com o lema “Mais leite, mais água e menos água no leite”, denunciando fraudes da indústria leiteira. O mesmo Barão que, morreria em meio a privações, aos 74 anos, no Rio de Janeiro, a tempo de lapidar outra gargalhante frase: “Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra”.
Newton Alvim é jornalista, escritor e aquarelista.

Boa noite. Gosto muito da Sepé. Mas para lê-la, não acho oportuno e adequado receber mais de 60 emails. Entupiu minha caixa de entrada.
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Prezado Marcelo, essa configuração – infelizmente – não está ao nosso alcance determiná-la. Para cada texto publicado o sistema automatiza a entrega de uma postagem e email individual. Talvez o melhor seja acompanhá-la pelas redes sociais ou visitá-la a partir de seu sumário. Desculpe-nos o embaraço. Creia, é involuntário.
Abraço
Lucio Carvalho
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