De ‘BREVE COMO TUDO’, de Gisela Rodriguez

A luminosidade se tornou incerta, a chuva cessara. Observei a praça à minha direita. As copas das árvores estavam brilhantes e seus troncos formavam um grupo consistente, e algo remetia à imortalidade. As raízes por baixo, na terra. As folhas voltariam à terra. O tempo parecia-me nítido, apesar de tudo. Quero dizer, mesmo que eu tivesse a certeza da efemeridade dele, eu estava nele. Se instalava com seus ilimitados detalhes dentro de mim e nas folhas molhadas das árvores cada vez mais verdes. Musgo, limo, chá, broto, aspargo, bandeira, abacate, esmeralda. Três meninas surgiram no caminho de pedregulhos que cortava a praça em duas, serpenteavam os troncos e riam, pulavam nas poças d’água. Olhei para o meu corpo inerte. Quem era eu afinal, naquele instante. Uma mulher de 52 anos, saindo de um casamento de 16 anos, com uma filha em Londres e com um livro ancorado no computador. Vaguei então pelo passado. Quando o cosmos era apenas estrelas e buracos negros, planetas e poeira cósmica e, chegando mais perto de nós, as nuvens e meteoritos em fogo. (…)

Gisela Rodriguez é mestra e doutoranda em Escrita Criativa pela PUCRS; atriz e diretora de teatro pela Faculdade CAL de Artes Cênicas (RJ). Autora do romance Entre a neve e o deserto (Libretos Editora, 2014) e do livro de poemas e fotografias Desordem (FUMPROARTE, 2015). Trabalha com teatro e literatura e é professora de teatro.

FICÇÃO

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