2 poemas de Cleber Pacheco
OBLIVION
Esqueci os sons das palavras,
Como consultar dicionários,
Os nomes das borboletas.
Hoje vigoram os ruídos,
Os mergulhos dos afogados,
A estridência dos espectros.
Será preciso reconstituir
A ingenuidade da ortografia,
Os resquícios dos pergaminhos,
A criação do alfabeto.
Só então poderei nomear
As flores fecundadas no silêncio.

DIMENSÃO
Os olhos do felino veem
As franjas do invisível,
Mesmo quando sonham,
Ainda que indolentes,
Os olhos do felino vasculham
Desconfianças escavadas
Na indocilidade do impalpável.
Ninguém pode adivinhar
O que jaz sob suas pálpebras,
O que fere a constituição das coisas,
O que reabilita a aspereza da carne,
Mesmo a mais flácida.
Os olhos do felino convergem
Para o astuto e doam córneas
Ao inverossímil, não raro abrindo
Portas hermeticamente lacradas.
Os olhos do felino abençoam
A fina ossatura dos silêncios.
Cleber Pacheco é escritor e tem diversos livros publicados em diferentes gêneros: conto, novela, romance, poesia, teatro, crítica literária. Recebeu prêmios literários pelo livro de poemas Mysteries, nos Estados Unidos; A Arte Poética de Aricy Curvello; a peça Intimidades e no concurso de crônicas Brasil 500 anos. É formado em Letras, tem Especialização em Filosofia: Epistemologia das Ciências Sociais e é Mestre em Literatura Brasileira.
