EM DEFESA DA ALEGRIA (Mário Benedetti), por Sidnei Schneider

para trini

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos infames
das ausências transitórias
e definitivas

defender a alegria como a um princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos

defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e da parada cardíaca
das endemias e academias

defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e homicidas
das férias e do cansaço
da obrigação de estar alegre

defender a alegria como uma certeza
defendê-la da oxidação e da sarna
da famosa pátina do tempo
da frescura e do oportunismo
dos proxenetas do riso

defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e das lástimas
do azar
e também da alegria


DEFENSA DE LA ALEGRÍA

a trini

Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría

Mario Benedetti, Cotidianas, México, Siglo XXI, 1979

Sidnei Schneider é poeta, ficcionista, tradutor e ensaísta. Publicou De rua e sangas (2ª ed. 2019), Andorinhas e outros enganos (2012), Quichiligangues (2008), Plano de Navegação (1999), entre outros. 1º lugar em poesia no Concurso Talentos, UFSM (1995), 1º lugar no Concurso de Contos Caio Fernando Abreu, UFRGS (2003), Troféu Açorianos de Divulgação literária, Prefeitura de Porto Alegre (2008).

POESIA

1 comentário Deixe um comentário

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: