UMA DAMA (Heinrich Heine) e TAPA DE LUVA (Friedrich von Schiller), traduzidos por Mariana Machado

UMA DAMA
(“Ein Weib”, canção de Heinrich Heine. Versão de Mariana Machado, a partir da tradução de Wagner Schadeck)

Ambos viviam uma paixão:
Ela, bandida; ele, ladrão.
Quando um trambique ele fazia,
Ela, na cama, ria e ria.

No ócio de dias sem proveito,
À noite, estava ela em seu peito.
Levaram-no à delegacia,
Ela, à janela, olhava e ria.

Fez-lhe um bilhete: “Eu vou ser morto.
Te apressa a vir ao meu encontro.
Não sei se vejo um novo dia.”
Mas dando de ombros, ela ria.

Lá pelas seis, foi enforcado;
Lá pelas sete, sepultado;
E às oito, nessa manhã fria,
Ela bebia vinho e ria.

TAPA DE LUVA
(“Der Handschuh”, balada de Friedrich von Schiller. Versão de Mariana Machado, a partir da tradução de Ary de Mesquita em Clássicos Jackson)

Na grande arena que espera
O sangue e o urro das feras,
Entre armaduras e togas,
E o tafetá das senhoras,

A corte inteira sussurra:
— Ora, é pra quando essa luta?!
O imperador ergue a figa,
E a arquibancada delira.

Rangem os ferros das grades:
Na arena, outra majestade
Abre um bocejo, anda lassa,
Mira a plateia com asco,

E estende ao chão o mole dorso.
A mão acena do trono:
Outro portão abre em frente.
A escuridão mostra os dentes!

Um tigre indócil rodeia
O leão fulvo na areia.
Mas vendo-o entediado,
Deita-se, enfim, ao seu lado.

O imperador olha, incrédulo.
Outro portão abre os ferros.
Súbito, saem pintalgados,
Da jaula, dois leopardos!

Troam de raiva os motores
Na goela dos predadores.
Dos leopardos e o tigre,
Somente o grande resiste.

Mira o leão os felinos
Enquanto ainda agonizam.
O povo pede: — Mais sangue!
Há súplica ao governante.

No meio desse alarido,
De um camarote florido
Cai da mãozinha uma luva,
Próxima às patas peludas.

Foi por querer que caiu —
E Cunegundes sorri.
A bela diz a um rapaz,
Com seu semblante mordaz:

— Se vosso amor é intenso
Como dizeis todo o tempo,
Ó cavalheiro Delorge,
Buscai seu prêmio ante a morte!

Mal o fidalgo ouve isso,
Põe-se a fazer o serviço
Com sua feição mais serena —
E junta a luva na arena.

Entre os gritinhos das damas
Faz-se, em segundos, sua fama.
Subindo a escada, em retorno,
Vê Cunegundes, risonha.

Seus olhos fúlgidos mostram
Logo, ao futuro, outra aposta.
Delorge diz, satisfeito:
— O vosso prêmio eu rejeito.

Quase partindo, ele espera.
Volta-se à bela donzela,
Dá tchau àquela que amara
E atira a luva em sua cara!

Mariana Machado nasceu em 1982, em Pelotas, e vive atualmente em Santa Maria, RS. É poeta, graduada em Artes Visuais (UFSM), com mestrado em Poéticas Visuais (UFRGS). Em 2021, publicou “Cães & Astromélias”, pela Editora Mondrongo. Seu novo livro, “Entre Mandalas, Espadas e uma Escada Caracol” está no prelo. Seus poemas já foram publicados nos periódicos: Revista Piparote, Jornal Rascunho e outra edição da Revista Sepé.

POESIA

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