4 poemas de Augusto Quenard
Aos pedreiros
Fazer um poema que nem o pedreiro,
assim, vai e bota mais uma palavra,
não, duas, e meia, que é mais certeiro,
vai que abra essa tábua, e o nosso celeiro
não fique de pé, que eu já tô calejado,
e é, bem amarrado, depois que isso seca,
cimento com ferro, dá um nó que… não é?
A gente não peca, é só reforçar,
o cara fazendo uma coisa furreca
depois se arrepende, mas ê! Já vi tudo,
não é que esses dias na dona Malena
um cara que entende, diz ele, não sei,
e o cara me pega uma frase sem rima,
não tinha poesia, nem alegoria,
quem dera uma estrofe! Nem uma açucena,
quem diz uma flor, bom se fosse, nem isso,
o gênio pegou mil tijolo e fez linha
após linha, ficava uma zona, tu visse,
mas só que adivinha, sem trago nem festa,
falida, ô trabalho fuleiro, uma fala
sem prumo, um estrago, e o baile chinfrim,
sem ritmo não presta, metesse um versinho
no meio da pista, tacasse a escanção
no seu auditório, chamasse o vizinho
pra vim lhe ajudar, e era um verso forçando,
quem via era prosa mas fora do esquadro,
eu tô te falando, esses cara de hoje
tu pede um trocaico te dão um troquês.
Por isso que eu digo, tu estuda meu filho,
que o pai tá na lida é pra tu melhorar,
a vida me deu essa sina,
caramba! aqui em cima, essa linha eu errei,
ficou meio torta, mas foi mais o susto,
não é, seu Augusto? O que importa é a firmeza,
que nem diz o outro, só tem três opção,
agora o celeiro ou melhora, ou piora,
senão fica igual, pois não tem solução.

Fertilidad de la duna
De toda piel en curva tuya
proclama arista su ilusión,
que no acierta a verse ilustre
en tu trigo ni en tu trazo.
Despedázase la recta
en la piedra de tus muslos
de erosión hecho el relieve.
La línea sin embargo permanece
de onda fértil, campo arado,
a los vértices clavados ata extremos
y dilata su cumbre sobre el vientre.
Sube el viento y sopla
alisio cálido de vida
que se engendra húmeda
de útero tocado por la lluvia,
jardín florecido en tu duna.
Amanece el horizonte y cruza
el espejismo de tu busto galáctico,
lo acuna la dureza de mis manos,
reloj de arena abierto alzo al cielo
para que el tiempo
se disgregue donde estás.

Poema e tradução extraídos do livro Cá, eu, lá:
Cá
Esta palavra que eu falo a ela
é cunha de não idêntica madeira
à do cabo de ipê. No valo
que, de certa maneira,
se abre nas veias dela, e artérias,
sempre que falo na esteira
do amor, o corte é desviado
por esses veios de aroeira
da cunha daquilo falado.
Já o cabo da pá lavra verdadeira
vala em que busco a expressão;
jatobá, caviúna, cerejeira,
sem importar o porte elas hão
de falar um corte sem meia
palavra, é o cerne que identifica
o que fala o cabo, e semeia
aquela semente embrião
do fruto ainda inerte do amor.
A cunha falada, palavra sestreira,
é matança da ideia, do grão,
torna à casca, outra cor;
pau-ferro, angico, amargoso, gameleira,
sem importar o porte, o corte
da cunha de outra madeira
é o desvio da palavra, e do amor, a morte.

Lá
Esta palabra que digo
es signo de no idéntica materia
al sentido de lo que ella ve. Sigo
lo que, de cierta manera,
se abre en los sueños de ella,
cada vez que destella mi jerga
de amor, y el surco es desviado
por los trazos de lengua
del signo de lo que fue hablado.
Ya el sentido que una pala abra
en su tierra interior es razón,
es raíz, realidad y engendra
sin esfuerzo su percepción,
no desmiembra y sin media
palabra, integra una sola materia
en sí mismo el sentido y siembra
la propia semilla embrión
del sentimiento latente de amor.
El signo que digo, palabra siniestra,
idea arbitraria en su convención,
refiere otra cosa, color, muestra,
cuerpo, amar, gozo, manera,
sin importar lo fuerte que acierte.
Solo el sentido en su propia materia
es vida de Amor, y de palabra, la muerte.
Augusto Quenard nasceu no Brasil em 1984. Formou-se em Letras, fez mestrado em Literatura Comparada e especialização em Tradução. Atualmente é tradutor e intérprete. Tem crônicas e contos publicados em blogs e antologias. É criador do blog Resumos de leituras e coprodutor do programa on-line Charla Literária. É autor de Cá, eu, lá (Ipê Amarelo), livro de poemas bilíngue.
