5 poemas de Carlos Castelo

CARTA A UM AMIGO MORTO

Curti a carta
Escrever à mão é saudável
Coisa plástica
Aplaudi a sua canção
Escrita livre
Toques fanopáicos
Bonito
Concordo: o sol sapeca quem escolhe o caminho “off road” da vida
Já estou ficando bronzeado, sem dúvida
Você tem razão quando diz que não dou valor ao meu trabalho
Não dou mesmo
Mais importante é fazer
Não quero estar na trilha da novela
Não quero tocar na FM
Não quero fazer música — no sentido tradicional de música
Queria ser lido-visto
Mas, por enquanto, sou um exegeta sem obra
Um chato
Deus é paciência
Sim, tem gente nova no pedaço
Estamos juntos há mais de ano
Menina-boa-cabeça
Vou ler a história do Chico e depois comento
Estive com Mário Lucas de Jesus Gama Neto
Pareceu-me ótimo, Cuba fez bem
O tempo desune muito
Abraço

CONTINENTE INCONTINENTE

Você é tão grande
Tão maior do que eu
Juventude dando em penca
Pixaimpoderada
Quisera levar uma surra
Da sua carapinha
Cara de pau a minha?
Pesar impossilidades
Impassíveis de ocorrer
Nem ao correr do dia de são nunca?
Você é grande coisa
Colosso de rodas gigantes
Cara apanhando da carapinha
Cara, é só no que penso
Enquanto o corpo penço
Tomba de cá para lá
Feito seu afrocaminhar
África de feminilidade
Onde caibo e me acabo
Longe do reino das caramunhas
Onde apanhava as moedas
Do chão, do ralo, da quina
Você é sorte grande
Continente incontinente
Meu reino por uma escada

BOBAGENS BÁSICAS

Se as bobagens que vou escrevendo
Todas as gafes literárias
De baixa estatura acadêmica
Se as minhas vozes (mesmo anêmicas)
Bastarem para conter tua insônia
Cheguei ao pico da Neblina
Se as besteiras que vou imprimindo
Demolirem o medo do medo
Ressuscitarem um novo nexo
Já te dou por feliz

BORBOLETEIO

A minha amiga cantante
em tempos que vão distantes
já foi bem diferente
Costurava a sua voz
à base de agulha e ilhós
desenhando o presente
Hoje soa tão suave
e me recorda certa ave
De trinados sutis
Com o seu instrumento em punho
vai formando redemunhos
rodopio em dó, ré, mis
Escuto a amiga calado
ouvinte sempre pasmado
enredado na teia
Como se ela desse um pulo
abandonou seu casulo
e, hoje, borboleteia

BREVIDADES

Perdão pelo meu
Poema tão breve
Escrevo pouco
Sinto muito

Carlos Castelo é cronista, compositor e frasista brasileiro.

POESIA

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