5 poemas de Dani Espíndola

DE DENTRO PRA FORA

É de dentro pra fora que começo
a esfregar
o limo crescido
aderido
reprimido

inspiro pântanos inteiros
expiro prantos
e um lamento derradeiro

derramo lamas
menstruo lágrimas
e a dor não purifica nada
se queres saber

a dor não purifica nada
no meu sofrer.

ENFIM

o ano finda, amor
e apenas o mesmo torpor
em mim
vinga

um eterno sentimento
de promessa
e tropeço
ouço longe um alvoroço
uma festa
que nunca é minha

o ano finda, amor
e eu nunca chego
a tempo
a nada
rumo a que farol
eu remo?

o que tanto temo
é a página
nunca virada.

DE LONGE

Escrevo de longe…

escrevo de um ontem mais antigo
por isso meu corpo é memória láctea
por isso as palavras são sopros
e o agora é um pôr do sol acontecido

escrevo de algum lugar distante
de onde tudo vejo e não estou
e o teu amor
antes perene
é a ilusão que me afogou

escrevo de um quando que já não sei
de uma solidez forjada, fingida
diluída em pranto e lassidão
tentando lembrar
se ainda sou alguém.

VENDAVAL

o vento que foste
fez este estrago que todos veem agora
não te demoraste
mas ao ir embora
deixaste
uma mulher sem janelas e portas
apenas marcos em pé
apenas marcas
sem fé
bastante para a reconstrução

sou uma mulher-porão
afundada, escura

meus pensamentos são as ratazanas da minh’alma corroída
minha pele – tecido puído, manchado, surrado
neste corpo-ruína

nesta caverna escura
habito
eu e meus fantasmas

da muralha que um dia fui
não restou nada
nem vontade de ser vingada.

FRAGILITÉ

não me toques
nesses dias de poros abertos
por onde minha alma escorre
tudo em mim morre
gota a gota
até que eu seja
um recipiente vazio
inerte

não me olhes
em dias que sou espectro
o corpo sobre o qual te deitas
um peso morto
um deserto

ainda que seja pó e memória
só o que me reste
tão em vão cada esforço
tão inglórias
as vitórias

não recolhas meus destroços
não haverá nada
que preste.

Dani Espíndola é formada em Letra Português-Inglês, especialista em Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa. Professora há mais de trinta anos. Em 2020, fez sua estreia com o e-book de poesia “Tanto fiz que deu poema”, além de ter poemas publicados em coletâneas e antologias. Teve um poema selecionado para compor a coletânea de poesia do Selo Off-Flip. Autora de Elvira Virgínia (2021).

POESIA

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