5 poemas de Sammis Reachers
Discipulado
Incapazes de desvendá-lo,
o tomamos como fruição:
e é sempre o mar que nos desvenda.

Lantejoula
A menina, ainda em seus quatorze anos,
anotava o nome dos que não a notavam.
Nem era ninguém, mocinha ainda,
e já tecia galáxias em seu coração de fiandeira.

Pêssego
Tua penugem, teu esse tal descalabro
De deitar urticária nas sanhas
Teus pelos friccionando-se contra
Os papilos das línguas…
Ah! Mamilo rubicundo, cona aurirrubra,
Sonho fibroso encapando
Um coração ou cerebelo de ferro
Langor umidificado
Que presto escorre, raio de sumo
Ao ver-se contrito, entre dentes
Realizado
Oásis de olor, fruta de cheiro
De apaixonar um mundo inteiro

Caqui
Pomo de outono
Dulçor em revolução
Fruto proibido do mandarim
Pelo mundo em lusas naus
Disseminado
Coisa de explodir contra o dentro das bocas
Ente todo-fruta, carcaça de mel
Beijo tenro, rublo rio
Cio, cicio, vício paradisíaco

Melancia
Oásis de colo, Vênus Hotentote
Vermelha de frescor e mansuetude
Debeladora da mornidão tropicana
– Planetóide elipsóide açucarândido –
Caravela fráctil, africana superlatividade
Céu da suma textura, fragrância solar
Esparramada cápsula da felicidade
Sammis Reachers é poeta, escritor e editor, autor de dez livros de poesia e três de contos/crônicas, organizador de mais de quarenta antologias e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou vice-versa. sreachers@gmail.com
