ALBERTO E CAROL: UM ROMANCE ALFABÉTICO, por Juliana Schaidhauer

Alberto acordou atordoado após aquele atraso de alguns minutos.

Banhou-se, botou sua blusa bege, as botas bacanas e a calça de brim. Estava na beca, bonitão.

Tudo combinava completamente, como convinha para conquistar o coração da colega Carol.

Decidiu degustar seus deliciosos damascos durante o deslocamento para não desperdiçar mais tempo desnecessariamente.

Esticou o dedo e empurrou o botão; ele esperava pelo elevador enquanto concluía que estava esquecendo de algo.

Francamente, falou furioso e voltou; fechou as frestas das janelas, reposicionou a foto da família, fiscalizou as bocas do fogão e conferiu tudo mais uma vez.

Gastou grande parte do caminho pensando em galanteios gentis e graciosos para oferecer à sua garota.

Não sabes a honra que é habitar o mesmo andar que tu, minha heroína. Que horror! Melhor ficar com o habitual hey, como vai hoje?

Inspirou, indignado com sua própria inaptidão romântica, e foi invadido por imagens de si mesmo infeliz e isolado.

Já chega, disse juntando suas esperanças e jurando que chamaria a jovem Carol para jantar num restaurante japonês.

Lambeu os lábios, levantou e tentou localizar o seu lindo alvo loiro.

O músculo cardíaco de Alberto dava mais de mil murros por minuto em seu peito magro enquanto ele se movia em direção à mulher de mocassins marrons.

Nada nunca conseguiria anular o nervosismo nocivo e a náusea que o dominavam naqueles momentos. E se ela dissesse não? E se já namorasse?

O homem sentiu que todos o observavam com seus olhares opressores. Olha lá o Alberto, obcecado, que otário.

Pensou que seria prudente parar no pipi-room, pentear os parcos cabelos e passar um perfume antes de se aproximar de sua paixão… Mas, porra!

Quem ele estava querendo enganar? Em que mundo a Carol, cheia de qualidades e com quinze anos a menos, ia querer sair com um quarentão quebrado, quieto e de queixo quadrado que nem ele?

Alberto resolveu retornar à sua mesa retangular; sentia-se ridículo. Se ao menos ele fosse rico, robusto ou renomado no seu ramo… Mas não, na realidade ele não passava de um romântico receoso.

Senhor Alberto, anunciou o sistema sonoro subitamente, favor subir ao sétimo andar, unidade número seis. Ele soltou um suspiro e logo sentiu que começava a suar.

Tentou não transparecer o quão tenso estava, mas a transpiração em sua testa e o tremor em todas as suas extremidades não contribuíam.

Havia uma única mulher naquela unidade. Copo de uísque na mão, unhas longas e pernas unidas uma sobre a outra. Tenho uma questão urgente para o senhor.

O homem vacilou, para variar, antes de pegar o envelope vermelho. Depois de muito tempo, sentiu-se vivo, vitorioso; enfim chegara a sua vez. Enquanto voltava à sua mesa, viu um vulto que se afastava com velocidade.

Estava prestes a xingar aquele xereta que mexia em suas coisas quando viu um papelzinho embaixo de sua xícara xadrez.

Deixando, então, de estar zangado e tornando-se zeloso, Alberto desdobrou o papelzinho e leu: 91827364, esse é meu Zap. Carol.

Juliana de Oliveira Schaidhauer é uma escritora e revisora textual formada em Letras pela UFRGS. Com 25 anos e morando na cidade de Porto Alegre, atualmente cursa o mestrado em Escrita Criativa e dedica-se à escrita do seu primeiro romance ao mesmo tempo em que atua como revisora textual para uma editora. Email para contato: ju.schaidhauer@gmail.com

FICÇÃO

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