‘A MERCADORIA MAIS PRECIOSA’, DE JEAN-CLAUDE GRUMBERG

Por Lucia Nogueira Leiria

A Mercadoria Mais Preciosa – uma fábula, de Jean-Claude Grumberg, como o próprio nome anuncia, é uma preciosidade. Relata a vida de um casal de lenhadores muito pobres e sem filhos. Ele agradecia todos os dias por não ter filho para alimentar, ela pedia a todas as forças do universo que lhe agraciassem com um filho para querer bem. Eram os tempos nefastos da Segunda Guerra, ele foi requisitado para serviços de interesse público, a ela coube percorrer o bosque para tentar abastecer o lar. Um dia, umas máquinas poderosas irromperam no bosque e construíram uns trilhos, por onde passava e repassava um único trem. A lenhadora gostava de vê-lo passar e organizou sua vida pelo horário do trem que, lhe disse o marido, carregava mercadorias. Essa palavra a encantou ainda mais e, quando o trem passava, imaginava-se percorrendo os vagões e escolhendo comidas, roupas, objetos. Abanava para o trem, às vezes uma mão lhe respondia; outras vezes, lhe jogavam pedaços de papel amassado com uns escritos, ininteligíveis, pois não sabia ler, mas que guardava no coração. Nevasse, fizesse frio ou calor, lá estava a lenhadora esperando o trem passar na esperança de que um dia lhe jogassem alguma mercadoria, como de fato jogaram, a mercadoria mais preciosa. Em forma de fábula, o autor evidencia as tristezas e as dores de um campo muito árido, mas de onde inimaginavelmente faz brotar alguma alegria. O livro foi traduzido por Rosa Freire D’Aguiar e editado pela Todavia.

Leia mais da autora em Sepé.

NÃO-FICÇÃO

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