VOL. 3, Nº. 8/2022
EDITORIAL
Há dias prometo a mim mesmo redigir um editorial para este novo número da Sepé. As colaborações (muitas e excelentes) e o trabalho de edição me atrasam a intenção, mas em paralelo vou pensando no que posso antecipar desta oitava edição da revista. Agora recomeço e prometo (mais uma promessa) ir até o final dessa vez. Veremos.
Das edições publicadas da Sepé, esta é a primeira que traz um editorial. Exceto a ed. especial nº 6, nem uma havia trazido. Limitava-me a escrever alguma coisa nas redes para apresentar a coleção de cada edição e, de resto, deixava que a edição falasse por sua própria conta. Era o que me parecia melhor, pois quem faz favores com a mão alheia tem o dever da discrição. É do que se trata.
Pensando um pouco mais, essa ideia de autonomia do texto e da expressão autoral sempre esteve para a revista como um pressuposto. Fosse, por outro lado, uma tentativa de refletir a ideia de um grupo, uma ideia setorial ou uma visão sectária, penso que isso seria como dar um limite ostensivo à participação das pessoas e também ao interesse dos leitores. Mas o limite literário é inesgotável e incessante – esse é o vigor, afinal, da “coisa toda”.
Muito mais para o oposto disso, a ideia da revista sempre se orientou na expectativa de consistir uma reserva de liberdade para autores e autoras que desejariam divulgar seu trabalho para além do diâmetro cada vez mais apertado das esferas de atenção individuais. E também o de procurar ser uma reserva de tempo no que diz respeito aos leitores. O tempo de leitura de cada pessoa é precioso – deve ser, portanto, respeitado e ao mesmo tempo estimulado no limite da sugestão. É como a “coisa toda” foi entabulada desde o seu começo.
Lançada no hiato entre os dois turnos do principal evento político nacional e pouco antes do começo da Feira do Livro de Porto Alegre (28/10 – 15/11), o aparecimento desta nova edição é ciente do risco de encontrar as pessoas concentradas na emergência da esfera política e geopolítica internacional, dado o recrudescimento do conflito russo-ucraniano. No entanto, não custa lembrar que a leitura consiste por excelência no tempo de reserva mental de cada pessoa e isso extrapola completamente qualquer tentativa de cerceamento. A curiosidade e a busca por conhecimento são os motores da leitura e, por isso mesmo, este é o tempo mais precioso que ninguém deve tomar de ninguém, mas simplesmente oferecê-lo.
Oferta, aliás, é o que temos de sobra nessa edição da Sepé.
Poetas que oferecem seus inéditos ou amostras de seus lançamentos, contistas e suas narrativas curtas, romancistas que segmentam seus romances e novelas, ensaístas que exercem suas reflexões, tradutores que recuperam vozes do passado e/ou do presente, autores e autoras que se abrem ao olhar dos leitores em textos próprios e em entrevistas – este é o conteúdo de que dispomos.
A essa altura dos acontecimentos (querendo ou não estamos no ano de 2022), vivemos sob a impressão de que já vimos tudo e que não há mais o que nos possa impressionar, o que turva nossa sensibilidade e pinta de opaco o que há de sutileza na criação e de mágico na recepção. Não há mais o que seja secreto e o princípio de transparência absoluta parece mesmo fixar essa época em que todos que publicam suas ideias tornam-se imediatamente transparentes. Pois é na leitura e graças à atenção dos leitores, todavia, que se guarda a possibilidade de potencializar a comunicação literária e universalizá-la.
O leitor notará que nessa edição há várias publicações que homenageiam e discutem o lugar de onde emitimos: Porto Alegre. Que não se pense, no entanto, que isso se dá com o sentido de arrogar à cidade um espaço privilegiado. Não. É apenas o reflexo de olhares agudos sobre a cultura literária, musical e audiovisual que acontece na cidade e sua história de 250 anos recém completados.
Para a Sepé, leitores somos todos. E não reduzimos a leitura à palavra, senão ao mundo. Gostamos de pertencer ao mundo com suas querelas e dificuldades tremendas. Não nos furtamos a ele, cada qual com sua intenção. Da mesma forma que no seu primeiro número (no remoto 2020), a Sepé continua de todos e firme em seu propósito e lema. Eclética enquanto dure.
SUMÁRIO DA EDIÇÃO
POESIA
De ‘SAL’
Mar Becker
De ‘EU É MUITOS OUTROS’
Douglas Ceccagno
De ‘ENTRE MANDALAS, ESPADAS E UMA ESCADA CARACOL’
Mariana Machado
PORTO ALEGRE
Lucio Carvalho
RUÍNAS DE SÃO MIGUEL
Getúlio Ellwanger Neves
2 poemas
Cleber Pacheco
3 poemas
Daniel Ricardo Barbosa
3 poemas
Eraldo Galindo
5 poemas
Giana Guterres
3 poemas
Gonzalo Bolliger
4 poemas
Ines Lempek
1 poema
Juliana Meira
5 poemas
Leonardo Oliveira
5 poemas
Lígia Savio
6 poemas
Luciano Lanzillotti
4 poemas
Mariana Artigas
3 poemas
Maximiliano da Rosa
1 poema
Myrian Beck
5 poemas
Sammis Reachers
3 poemas
Sonali Souza
1 poema
Vera Ione Molina
TRADUÇÕES
De ‘VENEZA SALVA’ (Simone Weil)
Gabriela Porto Alegre
EUGENIO MONTALE
Thomaz Albornoz Neves
EM DEFESA DA ALEGRIA (Mário Benedetti)
Sidnei Schneider
UMA DAMA (Heinrich Heine) e TAPA DE LUVA (Friedrich von Schiller)
Mariana Machado
FLAMINIA COLELLA: ALGUNS POEMAS TRADUZIDOS E UMA ENTREVISTA
Paulo Damin
FICÇÃO
De ‘NADA SERÁ COMO ANTES’
Andreia Schefer
De ‘CONVIVÊNCIAS’
Norberto Presta
PELEIAS
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
FELIZ NATAL
Cassionei Niches Petry
SINAPSE
Catia Schmaedecke
VÓ JANDIRA
Cátia Simon
TINHA UM CAMINHO NO MEIO DA PEDRA
Cristiano Fretta
TERRA SEM MALES
Dilan Camargo
MAMÃE TRABALHAVA À NOITE
Emir Rossoni
TUDO MUITO RÁPIDO
Fabrício Silveira
CERCO A JOHN HOWELL
Flávio Ilha
POR QUE OS HOMENS NÃO AMAM O PRESENTE?
Gabriel Gonzaga
ÁGUAS CORRENTES
Giuliana M. Seerig
COMO SE COMPORTAR COM AZEITONAS
Gustavo Melo Czekster
O FILHO PRÓDIGO
José Eduardo Degrazia
ANSIOGENESIS PERFECTA
Luciano Prado
COMO NUM VELHO FILME ESPANHOL
Luís Augusto Farinatti
RESTAURAÇÃO
Miguel da Costa Franco
ISSO VEM DE LONGE, IRÁ LONGE
Nelson Rego
A RUA DOS IMORTAIS
Simone Saueressig
NÃO FICÇÃO
COMO E QUANTO LÊ O RIO GRANDE DO SUL?
Lucio Carvalho
PORTO ALEGRE: UMA BIOGRAFIA MUSICAL
entrevista com Arthur de Faria
UM CERTO CINEMA GAÚCHO DE PORTO ALEGRE OU COMO O CINEMA IMAGINA A CAPITAL DOS GAÚCHOS
Boca Migotto
PROVINCIANISMO
José Francisco Botelho
LARA DE LEMOS: O TENSO REMEMORAR DA DITADURA MILITAR NO BRASIL
Katia da Costa Bezerra
MANIFESTO LÍQUIDO
Clarissa Ferreira
TRANSITORIEDADE
Luiz-Olyntho Telles da Silva
‘ATAQUE – CALE-SE AGORA E PARA SEMPRE’ de Ivete Nenflidio
Menalton Braff
EM QUAL COHAB MORA A TUA TRANSCENDÊNCIA?
Vitor Eduardo Simon