VOL. 2, Nº. 7/2022
Navegue pelo sumário da edição.

Navegue pelo sumário da edição.
O Instituto Estadual do Livro apresenta aqui “A Literatura Sul-Rio-Grandense de 1976-2016”, obra que preenche uma lacuna significativa nos estudos sobre a literatura no Rio Grande do Sul. A obra delineia um panorama quantitativo e qualitativo de livros e autores publicados nas últimas décadas no estado e analisa os dados resultantes de forma clara e…
Leia mais A LITERATURA SUL-RIO-GRANDENSE DE 1976 – 2016: PRODUÇÃO, DISSEMINAÇÃO E CONSUMO
Em 2021, a tradicional Praça da Alfândega e seu pavimento de pedras portuguesas, no coração do Centro Histórico porto-alegrense, voltou a receber as barracas e estandes da Feira do Livro de Porto Alegre. Nessa edição da Sepé, convidamos a curadora do evento (neste e no ano anterior), Lu Thomé, para conversar a respeito do evento…
A poucos meses de que se iniciem as comemorações da Semana de Arte de Moderna de 1922, é e ao mesmo tempo não é custoso lembrar a efeméride e refletir um tanto acerca do impacto modernista na literatura rio-grandense. Como se sabe, trata-se de uma relação que não foi por aqui resolvida por uma arremedada…
Porto Alegre, maio de 2020. Como se pode contar a história da literatura brasileira hoje, neste começo de novo século? Os modelos tradicionais de relato historiográfico que lidam com o objeto literatura têm ainda algum sentido? Têm capacidade para abranger o que se produziu nos tempos mais recentes? Estão eles de algum modo atualizados no…
Leia mais De ‘DUAS FORMAÇÕES, UMA HISTÓRIA’, de Luís Augusto Fischer
Sempre acompanhei com algum ceticismo aquela surrada máxima de que “santo de casa não faz milagre”, mas sou obrigado a concordar com ela diante da trajetória de Aparício Torelli, o afamado Barão de Itararé. Pois a vida desse pioneiro do humor brasileiro começou justamente em terras gaúchas, ao nascer dentro de sacolejante carruagem que perdera…
Leia mais BARÃO DE ITARARÉ: UM RIO-GRANDINO, por Newton Alvim
A primeira temporada durou um ano, mais ou menos, e a gente bebia quase toda a receita, até porque parte dela não precisava ser convertida do estado sólido do papel-moeda, ela já nos aguardava liquefeita nos vasilhames que pagavam espaços publicitários. O estado sólido do papel-moeda é força de expressão. Se não me falhe a…
Leia mais GIM COM CRÔNICA: UMA TEMPESTADE EM COPO DE CERVEJA, por André Martins
Dia desses, durante uma entrevista ao Centro Cultural Brasil-Peru, fui instada a falar sobre o 20 de setembro e, em um episódio de ato falho clássico, mencionei 20 de novembro no lugar do 20 de setembro Farroupilha, tendo que me corrigir na sequência. O fato de outubro ficar espremido entre dois momentos de mirada histórica…
Ensaio publicado no Caderno de Sábado do Correio do Povo,em 25 de abril de 2020. Clarice Lispector foi jornalista, bacharel em direito e surgiu no panorama literário brasileiro em 1943 com a publicação do primeiro romance – Perto do Coração Selvagem (PCS). Ela já havia publicado alguns contos, mas somente após o prêmio Graça Aranha,…
Leia mais CLARICE LISPECTOR E A FOME DE SABER DE NÓS, por Cátia Simon
QUADRO 10 Na escuridão total, só as vozes das atrizes. EVA Agora fecha os olhos. Faz de conta que este beliche é um confessionário vertical. Me fala algum segredo, de preferência sujo, algo que ninguém saiba sobre ti, algo que te envergonhe, alguma humilhação… Eu vou fazer o mesmo. Será uma espécie de pacto de…
Leia mais BONECAS DE ARGILA – TEXTO TEATRAL – (fragmento), por Jorge Rein
É pálido, mas também início. A teia começa em algo, na inconformidade da sua urdidora, e o primeiro vestígio é um fio quase translúcido a esvoaçar em meio à sala, frágil e inocente, sobrevivendo ao vento que esboroa a janela com cortes secos, repletos de um frio invisível, crepuscular. O mundo se ressente da ausência…
Era tempo de banho de gado, lá pros lados de Cacequi. De noitinha, depois de encerrarem a lida, os peões estavam reunidos no galpão, espalhados em círculo ao redor do fogo de chão. Uma cambona aquecia a água do mate, no meio das brasas. Sobre a trempe baixa, uma peça de costela e umas tiras…
Permaneci à janela observando as ondas na areia, aqueles babados brancos que lembravam uma fantasia de baiana coberta de brilhos, a sambar lentamente na avenida, bem como a televisão mostrava quando focava nas saias. Chegara ao entardecer com todas aquelas latas e caixas, descarregadas num quarto da casa emprestada pelo meu patrão. Desinsetizador de residências…
Me perguntaram quando parei de lembrar de você. Na verdade não me perguntaram. Eu me perguntei. Era domingo. A casa estava um caos e não parava de chover já fazia cinco dias. Miguel destruía ruidosamente os restos de isopor da embalagem da máquina de lavar nova. Pedro interrompia minha tentativa de finalizar um keynote para…
Espaçado. Dois passos, noutro lugar. Que antes de mim vinha uma palavra, mesmo que arrastada por causa do medo. Pode? Era um jeito de chegança e riso. Porque era de rir. Rir de mim por causa da sanga, da beirada do rio, da gente criança. Porque num tempo assim me conheciam gente e filiação do…
Lembro que passei anos – acho uns seis anos, achando que eu havia matado o Mateus Caviar de propósito, se eu teria sido mesmo capaz de ter largado a mão dele só para vê-lo se esborrachar lá embaixo. Ser capaz de matar alguém. Eu era boa pessoa, agora, por exemplo, sou secretário adjunto do Rotary…
Muitos anos atrás, encontrei na casa da minha mãe, no meio de umas roupas antigas, uma anágua. Experimentei-a e me achei bem. Ela falou que se tratava de uma peça do enxoval. Eu ri. Pensei que minha mãe pudesse ter tirado a anágua pouco antes de me conceber. Eu já era adulta, mas não sabia…
Leia mais EU CERZI A ALÇA DA ANÁGUA DA MINHA MÃE, por Luciana Paiva Coronel
(…)What I’ve feltWhat I’ve knownNever shined through in what I’ve shownNever beNever seeWon’t see what might have been(…)The Unforgiven – Metallica Questão das mais instigantes refere-se à quantidade de vomitados nas paradas de ônibus de Porto Alegre: difícil é vermos uma única parada que não tenha um amontoado de massa triturada e mal digerida na…
Era início de junho. Até agora, fora um ano muito estranho; um ano de medo e especulações sobre o futuro da humanidade. Uma doença nova e perigosa assolava o planeta inteiro, e todos tentavam se adaptar às novas normas de segurança criadas para evitar o contágio. O inverno havia chegado no hemisfério sul, e, com…
Antigamente Porto Alegre era uma cidade murada cujo portão se fechava ao anoitecer para impedir a entrada de possíveis invasores através das águas, e abria-se nas primeiras horas do dia seguinte. Era o que aparentava à primeira vista, quando havia a escassez de chuvas torrenciais e consequentes cheias. Foi ali, às margens do Guaíba, que…
Doralina, mais conhecida na vizinhança como Dora, é uma senhora septuagenária, aposentada, viúva, vivem ela e Fumaça no seu pequeno apartamento. Fumaça deve seu nome ao tom cinza do seu pelo e também ao seu comportamento onipresente e irrequieto, Fumaça está aqui, ali, lá e de novo aqui. Dora é uma senhora de baixa estatura,…
Maristela caminha apressada. São dias de angústia, de procuras vãs, esperas inúteis, o corpo e mente em desalinho, espírito denso demais. Precisa de um emprego, e logo. É nisso que pensa enquanto cruza os caminhos, percorre as ruas apinhadas de gente tosca e macambúzia, o sol demasiado quente sobre sua cabeça, fazendo ferver seu espírito…
Resolvi que iria dar um jeito na minha vida naquele momento. Aquela era a hora, nenhuma outra jamais se anteciparia. Era meu sim, meu princípio. Por mais que tenha demorado, por mais que tenha vacilado, entrei por um túnel que não tinha volta, nem engano. Passei bons anos vagando em uma espécie de limbo que…
Não há um modo indolor de consertar o passado. O que sei é o que me contaram, porque vivo de histórias: em alguma tarde do ano de 1979, Álvaro Afonso e Ilma Silva conversavam em tom baixo, dentro de um Corcel creme. O banco de trás estava cheio de livros. Álvaro gostava de literatura, em…
E passaram-se dias. Quando a luz voltou, depois desse tempo, foi o momento de despertar de Esmeralda. Acordou com as lambidas de seu gato, companheiro de isolamento. No início, com luz e internet funcionando, o isolamento foi saudável. Mas, depois de algumas semanas, alguns sistemas de gerenciamento de dados não conseguiram mais dar conta do…
De onde vêm as palavras? Dona Júlia comentou com Dona Rosária que já era quase a hora de arrumar tudo e fechar a biblioteca da escola. As crianças já tinham voltado para as salas de aula e havia inúmeros livros misturados sobre as mesas. Elas pegavam um por um e recolocavam nas estantes. Quando tudo…
Leia mais De ‘A BIBLIOTECA DOS LIVROS AMIGOS’, de Alberto Goldim e José Roberto Goldim
A primeira vez que a vida do Pirata cruzou com a vida do Figueira foi numa noite de inverno de gelar os ossos. Tinha chovido, e as ruas e calçadas acumulavam poças d’água. Figueira estava no lugar de sempre, o ponto certo onde ele se refugiava quando escurecia. Sentado debaixo do grande viaduto da avenida,…
É madrugada. A casa está silenciosa. Mas não confunda essa quietude com paz: o silêncio pode ser bem mais inquietante do que os sons. Até porque os sons chegam da rua – agitação, carros, movimento, vida. E esse excesso de silêncio aqui dentro, que contrasta com a vida que pulsa lá fora, perturba. Tem outro…
Leia mais UM ANÚNCIO NOS CLASSIFICADOS, por Maristela Scheuer Deves
“Ele riu, nervoso, e a puxou na direção da porta. Meteu a mão no trinco, teve de forçar um pouco antes da folha se abrir para a escuridão e ele cair para fora. No breve instante em que perderam contato, Maria do Céu achou que ele tivesse caído em alguma armadilha da embarcação abandonada. Gritou,…
David Chorlton é um professor de inglês para estrangeiros nascido em Manchester, ao noroeste da Inglaterra. Em dezembro de 2016, completou quarenta anos de idade. Só não comemorou porque vivia do dinheiro acumulado entre aquele ano e o ano anterior, quando esteve no Vietnã junto com a esposa. No dia do aniversário, recebeu um telefonema…
A carroça do leite atingiu sua anca e aleijou-lhe o prumo. A negra Dirlei ficou caminhando assim, a coitada. Triscava a estrada com o pé direito, dando um volteado meio bobo no ar, para endireitar-se com ajuda do esquerdo e seguir adiante. – Aqui tá fundo aqui tá raso, gritava a gurizada em coro ao…
Amei muitas vezes, nem sempre correspondidas, mas todas muito sentidas. Numa delas, me apaixonei pelo dono de um armazém de secos e molhados do bairro. Na verdade, era quase uma delicatessen, vendia desde artigos importados até itens mais comuns do dia a dia, mas tenho comigo boas razões para chamar de armazém. Costumava ir lá…
Leia mais ARMAZÉM DE SECOS E MOLHADOS, por Lucia Nogueira Leiria
às vezes eu queria ser como um pássaro que acompanha por alguns instantes um ônibus de viagem, ser obstinado como esse pássaro, ou como um peixe, melhor, eu queria ser como o pássaro que abocanha um peixe dentro do lago, é impossível ter certeza de que ele avista o peixe antes do mergulho, quem de…
Sentado no vaso do banheiro, nu, os pés descalços aproveitando o frescor da cerâmica do piso, Ariovaldo fumava o terceiro cigarro desde que havia se refugiado ali. Não conseguia dormir. Precisava apagar da memória aquela noite ruim. Distraía-se acendendo e apagando o isqueiro. A salvo das reprimendas pudicas de antes, que o haviam irritado muito,…
Nota de Robert Ross Embora estas cartas tenham sido endereçadas a Lord Alfred Douglas, mais conhecido como Bosie, de fato nunca foram remetidas a ele. O próprio Wilde deixa esse fato bem claro, ao fim da primeira carta. Aparentemente, ele deixou-as em Berneval, não sei se de propósito ou não, e foram entregues a mim…
O verso é um doido cantando sozinho.Seu assunto é o caminho. E nada mais!O caminho que ele próprio inventa…Mario Quintana No ensaio “Lírica e sociedade”, Theodor Adorno afirma que o poema é o encontro entre subjetividades, a do poeta e a do leitor, através da linguagem que funciona como um elo entre lírica e sociedade.…
“Sei arrivata, sei arrivata”, consegui sorrir quando tu chegou. As pessoas comentam quando sorrimos num velório. Mas o que elas mais fazem é tentar nos fazer sorrir de maneiras tão estúpidas que sentimos vontade de colocá-las no lugar do defunto. Eu sorri porque te vi. Porque tu tinha chegado. Porque eu queria que tu estivesse…
O crítico cinematográfico Tom Mes já havia sentenciado: se você quer conhecer a cultura de um país estrangeiro, não dá para assistir aos filmes ditos “de arte”; estes seguem fórmulas prontas, em geral importadas da França. Para realmente mergulhar em uma cultura distinta, é necessário ver filmes de terror. Com certeza, Mes pensava na ampla…
“Lucio, tudo bem? Não vai ter as recomendações de leitura, igual teve no ano passado? Nesse ano vamos de edição normal, Luís. Todavia, se quiseres fazer uma resenha breve de algum livro, recebo tb!” * As aspas acima intentam mostrar que pretendo deixar tudo às claras. Nessa linha, preciso dizer que conheço a Helena Terra…
Leia mais BONEQUINHA DE LIXO, UMA RESENHA BREVE PARA UM LONGA RECOMENDAÇÃO, por Luís Roberto Amabile
Michael Desser tinha seis anos quando sua mãe, uma vienense nascida na Inglaterra de pais refugiados judeus, casou-se pela segunda vez e mudou-se para a Dinamarca, deixando-o em Viena aos cuidados do pai. Essa experiência brutal de “exílio” emocional refletia, de forma invertida, a de sua mãe: com dois anos de idade, enquanto Londres era…
Olivetti Lettera 32, de Carolina Panta, editado pela Zouk, em 2021, tem na capa o cartão de visitas perfeito com os bonecos criados pela artista Ana Clara Lacerda. Os tons remetem a uma foto antiga com um toque nostálgico. A ausência de um rosto, o sentido horizontal do corpo e a continuidade das pernas na…
Bem vindos ao meu delírio.(Pichação de muro de rua) Construímos muros demais e pontes de menos.(Isaac Newton) Durante o passeio matinal até a frente da propriedade Frau Emma viu um cesto colocado por dentro do portão. Achou estranho, pois o marido tivera o cuidado de colocar uma caixa bem grande para receber encomendas e cartas…
Leia mais De ‘O ENIGMA POR TRÁS DO MURO’, de Neusa Demartini
A luminosidade se tornou incerta, a chuva cessara. Observei a praça à minha direita. As copas das árvores estavam brilhantes e seus troncos formavam um grupo consistente, e algo remetia à imortalidade. As raízes por baixo, na terra. As folhas voltariam à terra. O tempo parecia-me nítido, apesar de tudo. Quero dizer, mesmo que eu…
Honey, don’t you know it’s time?I feel it’s timeSomebody told you, ‘cause you got to knowThat all you ever gonna have to count onOr gonna wanna lean onIt’s gonna feel just like those raindrops doWhen they’re falling down, honey, all around youOh, I know you’re unhappy Lorenz Hart / Richard Rodgers Não era de uma…
Em tardes de invernoque o fogo alongavaestalando chamaspra dentro do ocasominha avó contavaa velha lembrançade quando, menina,na noite do rancho,o estrondo de passoscresceu em seu sonhoe a trouxe assustadade volta à vigília. Passos de botas duras,duro tinir de esporas,estalos de rebenques,sussurros de cancelas,contra o silêncio aflitoda noite que aguardavaum grito, uma batida,na estância que dormia,exceto…
manhã de sol —outros meninos brincamno rio que era meu o fim das coisas parecemesmo sercomo um rioque sempre termina ondecomeçaoutro rio (ou mar)tudo parece recomeçar raso e manso, o rio da infânciaagora transborda /enverga as amoreirasdestrói o asfalto que não haviaarranca pela raiz as velhas mangueirasdecepa os lírios brancostalvez para sempreé findo o tempo…
1 Lembras daquele hotel no centro de La Pazonde fiquei sozinho depois do soroche e das cervejasque tomei pensando no trem que dava voltasdesde o alto para entrar na estação da cidade?Parece que ainda hoje estou ali e a febre batenas minhas têmporas como o vento nas vidraças.Parece que desde aquele inverno eu te perdi.…
Leia mais MEMORIAL ESCRITO NUM QUARTO DE HOTEL, por José Eduardo Degrazia
Maria Grazia Nappa (Caserta, Itália, 1985) estreou na literatura em 2018, com a publicação de um livro de poemas chamado Le brutture dei cuori scalzi (“As feiuras dos corações descalços”). Em 2019, lançou Nata intera (“Nascida inteira”), também uma coletânea de poesias. Publicou em diversas revistas, como ClanDestino, 900 letterario e La lettura. Organizou com…
Leia mais MARIA GRAZIA NAPPA: ALGUNS POEMAS TRADUZIDOS E UMA ENTREVISTA, por Paulo Damin
pássaro, 1994 depois, bem depoisque meu amigo Luizse jogou do terraço do nosso apartamento,passamos a chamá-lo de homem-pássaroque era uma forma de rirmosde um assunto que não nos deixava mais tristes estava tudo previstoele, ou parte dele,já havia cortado os pulsos uma veze tomado umas pílulas outra vezmas isso a gente não sabiafoi o irmão…
Inscrições abertas para cursos de línguas estrangeiras 2028 Gozar, apesar,ao invés e ao revésde tudo. A partir do que for.Como um ás. Saber o gozodisponível, como o arpara a respiração. Desfrutar de todo jeito.Sem embargo e a despeito. Malgrado e não obstante.Independentemente. A conjunção de fatoressabemos bem – e também por isso gozar. Na cara…
ROLOS DE PAPEL FILME como ybásecando longe do pé dedos esticadospela ganância brancaformam uma linhado polegar ao mundinho movimentos de pinçaroubam a tangerinatentando extraira seiva interina sem que saibamrobôs descascamo firmamento frutos envoltos em etilenoenrolam horizontesem rolos de papel filme UM SÓ LAMENTO PARA O SOTERRAMENTO enquanto cipósse lançam do altodas copasbuscandoa semente pessoastrocam de…
feita de cantos livresmesmo nas horas friasum pedaço de pedramedrado de poesialonge de deus e o mundotão perto das aguadasdeleitar de delírioscios de passaradarisos e super novasrosas, mitologiasguia de não sei ondelonge de já ser diamúsica analfabetafeita de letra poucagraves estrelas riemluas e aqualouca Que idade tem a almaDa criança que nasceu? Quantas células se…
Noite espichada Noite espichada,Dia que se recusa a chegar.A noite profunda é o meu habitat,Quando ela chega saio para as ruasDesertas, o lixo carregado pelo vento,Que posso ver até onde permite a neblina.Movimento-me por calçadasIrregulares e estreitas. Às vezes,Tropeço. Quase caio.Vejo luzes de bares quebradas pelaDensa bruma,Dentro deles só corações sangrandoDe solidão.Não é real, estou…
Primeira pessoa Livre como os cavalos nos desfiladeiros, selvagemtece teias como as aranhas apanhando suas presasarremete-se por estradas poeirentasacaricia os pássaros em voo. Sua solidão não se rompenada muda na paisagem de seus olhosmorta de um cansaço em outro além de tudoa morte anuncia-se em lampejos de luzes tremeluzentes. As cadeias em círculos concêntricosnunca saiu…
POEMA TIRADO DE UMA PALESTRA InventamosA bicicletaO carroO avião O tombo de bicicletaA batida de carroA queda de avião A vida não tem nada a ver com a morteE a morte não tem nada a ver com a vida A vida não tem fim, é interrompidaE a morte é essa fratura, é esse corte Não…
Refluxo das horas Havia um fogomornouma sombraocultaatrás das horasidas Um raio indiscretofulminando silênciosdiminuíao hiato No esconderijoa céu abertopalavras aqueciama pele Segredos reveladosa céu noturnona areia movediçauma estrada Olhos entreabertosa maré semeiacorpos renovadosno refluxo das horasidase vindas. Estiagem Entrego esse sorrisodobrado e guardadona caixa de fantasiasque o musgo do invernoesqueceu de cobrir a chuva metálicaacordou o…
Sinto que ficareià deriva.Mas desta veznão cristalizareias tempestades.Transformarei o além-marem marolassuficientementefrágeis,para eu repousar. Enquantoosustonãopassa, enquantoatristezanãocansa, intentarei novos altares.Amanhecerei outras.Carregarei flores,com cores inventadasque ainda nem sei,por lugares inimagináveis,onde escaparei.Anoitecerei eras.Reconhecerei poucas. Decantarei. “Tsunami” in “Memorial de Lilia.” Descobertas insensatas.Pequenos fracassos.Busco pontes movediças, inauguro naufrágiosde centenas de barcos de papelem dias ensolarados. Respiro por entre os cantosde…
Idas e vindas Em intervalos de tempoperco-meperco-me de tal maneira,que chego a sentir o gostode poesia do meu desertoem minha boca Em intervalos de tempoperco-me Quando menos esperosem mais nem porquêvoltovolto de tal maneira,que chego a desdenharde quem sem saída, se foi. Em raros dias de neutralidade internade ser limpo, que não tem pretensão de…
o muro estar no escurocegaem cima do muro fio-de-navalhaque retalharecorta em frangalhosa alma a dor que entalhadúvida megeraque emperraestanca a vidasangra a feridaatrapalha no murogritourroficoa esperar o desequilíbrioque me libertarádesta prisão em linha reta diagnóstico como lhe explicar, doutor,o que sinto? o que não sinto maisé o que me assustaviver em apreensão o fôlego sempre…
Inquietação Em que clarão me lancei?Tanto espaço entre o calado e o expressoUm universo metaversoDia e mente escrevo parágrafosInteirosMedo e razão apagam tudoQuerem o tempo em negaçãoA segura certeza do grande irmão Poros O amor descoberto em noite de lua cheiadegustado em cálice de vinhoexpande os corposapeia, gaucheque a solidão é vento de areia Jardim…
As Cinco Irmãs Ausentes estrelas, cruzeiro do sula bússola coração que vagueiaa respiração nítida condensadaacelerada como bater de palmasem espaço de engolir os sonos. Equilibre o que não pesameça a força do tempoescreva peça na escuridão. A cena é a que se repeteas crianças brincam, bolabarcos de papel, chocolateos lábios sujos de ranhomarcados pela terratudo…
Ausência Mesmo que não saibasa cidade ficou diferenteum tom a mais ou a menosno colorido de repente No meu cafépingo duas ou três gotas de tristezacostume largopara que não penses que-em-teu-ocaso-esqueci-de-tuas-mãos-nas-minhas Corro para te contar as novidadesbobagemandas por outras paragens Na ausência, o hábito faca e felensina que a vida é árvore no ventonão há…
dói quando eu encontrofotos nossas no meu celularocorrem dois momentos: surge um ar diferente no ambiente,uma doçura que eu apostoque toma conta da sala inteira,do andar todo, do prédio por completoe eu lembro da gente sendo feliz(afinal, ninguém tira foto de casal triste)e nem penso nos mil motivospara que tenha dado tão errado. depois, as…
Leia mais De ‘A ÚLTIMA VEZ QUE PENSO EM VOCÊ NESTE SEGUNDO’, de Léo Cruz
desidentificação convidaram-me a sentar à mesacom a condição de que me alienasse de mimapenas para comer as sobrasao invés de oferenda que alimentasse o meu serpor isso, começo a expelir a bílis da assimilaçãode um desejo alheio ao que me constituide um parâmetro alheio a quem sou. o quanto de mim foi perdidodesacreditado, esvaziado?quem é…
A cor do negro (Ana dos Santos) A cor do negroé o contraste entre as cores.São multicores negrasentre a mais clara e a mais escura cor.Mas ainda é negroo meu amor!Há pessoas de core há pessoas sem amor…E eu,eu amo quem sou:Negra! Preta-à-porter (Carmen Lima) Pendura a armadurapesada e dura de amargorEspalha, embaralha, realça tua…
não sei dizer agora dizer assimao certo qual foi a maior rajadade vento que já dançou na minhapele. não sou tão velho assim prater o fígado lacrado pelos ponteirospodres do relógio. tenho agoratudo cronometrado só por cançõesaleatórias, neste quadrado correto,liso e desinfetado. a única aberraçãoque aqui cria limo vicia um interiorembaralhado. tenho certeza de quea…