MANIFESTO LÍQUIDO, por Clarissa Ferreira
Presente em seu lançamento “Gauchismo Líquido”,
publicação da editora Coragem,
publicamos vídeo e texto do seu “Manifesto Líquido”.
Eu que me renda
desse destino de prenda
contemporânea gueixa gaúcha
dar-se feito oferenda
contam em mito e lenda
argumentos que repreenda
numa tapera ou casca
onde o espaço compreenda
A essência do cair da lágrima
consentem ser matéria prima
terços, costuras, rendas
donas de esperas
tudo que oprima
aquele ingênuo protótipo campesina
Livres galopam centauros
não há atenção que se prenda
(como no olhar da Salamanca pela fenda)
Nesse mito ocidentalizado cansado
de um cowboy, um “gaucho” ou um cossaco
semi bárbaro
anti intelectual
mais dos mesmos arquétipos
estilo patriarcal
Os anos (re)inventam verdades
o tempo modifica os cultos
mantêm fôrmas de vaidades
antigo dogma oculto
defendido como tradicional
Opressores oprimindo
doma (ir)racional
simbólicas atrocidades
inventando adjetivos
tendo prenda como regalo
suprimento narcísico do peão
dona de um corpo não seu
sem discussão
Que hoje se narra
dispensa homenagens de auto-promoção
interesseira confissão
romântica agressão
harmonizada dominação
simbólica submissão
trocadilhos de coisificação
Prenda tem voz!
conteúdo que adenda
cerne que acenda
sapiência que não omito
trago e evoco noutro mito
medo masculino antigo
deusa Métis
intuição!
Clarissa Ferreira é violinista, etnomusicóloga, pesquisadora e compositora do Rio Grande do Sul. Possui quatro singles lançados, e está produzindo seu primeiro álbum autoral que se chamará LaVaca. Lançou em 2021 o livro Gauchismo Líquido (Coragem).
