2 poemas de Myrian Beck

Abuso

A luz quebrada do abajur,
a espera.
Respiras perto do vidro
teu vapor nubla janela.
Um drinque, dois
lâmina na memória
o segredo da tapera “até depois”.

Um coração partido resistindo
bravo coração
o sol se indo
lágrima pelo vão do céu
o sono cujo véu não chega ensina:
reza unindo as pernas que
assombração não cai por cima.

Lá fora, garoa no capô te nina.
Lama tem carbono, orienta freira
ressecada no pneu da rural willis
em tom grafite gelado
De dentro do cobertor
dás adeus à Via Lactea
num só olho arregalado.

Boazinha, trazes ovos para o bolo
(me abomino)
malvada, apedrejas passarinhos
(me protejo)
frente ao espelho de cristal da bisa
abre-te em dedos
(faço treze no final do ano)
eis teu sangue de mulher e pelos.

A hora virá

E quando percebo que nem tudo vejo desejo ficar e apenas sentar-me, calada.
Somente.
Mais nada.

A hora virá
num tapete de flores inertes
sob os meus pés
cansados
Gotas de chuva irão brilhar
diante dos meus olhos
cansados
lágrimas dos meus amores mortos
e o coração sem pilhas
ponteiro ou corda
num tic tac
penado.

A vida teima e é sorte
mas não repete rima.
Um dia, eu parto.
Se der, eu volto.
Se não, assombro.

Myrian Beck foi ghost writer por mais de duas décadas, produzindo discursos, relatórios, palestras e artigos jornalísticas. É formada em Filosofia pela PUC/RS, com especialização em Axiologia, e servidora concursada do Senado da República. Participou da Antologia de Poetas Contemporâneos do Rio Grande do Sul e por alguns anos publicou semanalmente contos no site Via Política, livre informação e cultura. Myrian fez da escrita um oficio que a projetou na área de comunicação no meio político e que a consagra no meio literário, como contista e poeta.

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