Por Everton Luiz Cidade
A atriz, diretora e escritora Raquel Zepka já disse que seu livro era um diário de mentiras. Eu o leio como um diário de revelações de realismo ultra mágico. Um carrossel multicolorido e sombrio de verdades cruéis ficcionadas. São poemas de imolação. Poemas soco. Poemas susto. Tão necessário quanto Hilda Hilst.
TIO CÉSAR
Pouco antes de morrer
meu tio César sonhava frequentemente
com cães gigantes dilacerando
um homem de smoking.
Enormes Rotwaillers e Dobermans espumando,
ladrando aos céus a música de invocação
de algum demônio furioso.
Não sei se foi isso mesmo que eu ouvi.
Por alguma razão essa conversa
entre meu tio e minha bisavó ficou gravada
nas minhas recordações.
A memória inventa artimanhas pra reinscrever
a história da gente dentro da gente.
(…)

