A mulher de 31
A madurez que olha dos meus olhos
tem a ternura explícita
do amor vencido,
o que avança das sombras ideais
e risca
e arrisca
e sonha
assombra os mares
e ruge.
A madurez me enlaça
em seu abraço.
Traz no gesto o acalanto
deste verso contido
que ora lês.
A madurez
não tem o tempo que procuro
mas o tempo preciso
que preciso viver.

O Processo
I
Eu denuncio
as tardes vazias de amor
as noites brancas, de luar suave,
anônimas e frias
Eu denuncio
a saudade atroz que me atormenta
em ritmo veloz
II
Condene-se à prisão
perpétua
este teimoso, reincidente coração
Que, amordaçado,
se cale para sempre
e se esqueça de si
III
Eu denuncio
eu julgo
e eu condeno
Nesta injusta justiça
que na vida aprendi.

O que falta…
Meu céu anda escurecido
e não é por falta de sol
É a falta de um sorriso
desse olhar bem atrevido
da tua falta de siso
do teu perfil imperfeito
da luz que vem
do teu jeito
sincero
de me encantar.

Ou isso…
A lua cheia pede
pra te dizer
que é preciso te ver
sem meios
sem meias
com palavras inteiras
palavras macias
como beijos doces
A lua cheia pede
pra voltar à pele
sem mágoas
sem medos
com beijos macios
como palavras doces
A lua cheia sabe
na sua luz silente
que a não morrer de vírus
morremos de saudade…
Cecilia Kemel é natural de Cachoeira do Sul/RS e sempre esteve ligada às letras. Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa e Brasileira pela UFRGS, tem publicações de poemas, contos, crônicas e crítica literária em meios jornalísticos, antologias poéticas impressas e em meios digitais. Publicou uma obra solo na área da Antropologia pela Edunisc e, em 2022, o livro de poemas “O Livro”, pela Editora Bestiário. Também conquistou prêmios e classificações em vários segmentos literários, faz parte da Academia Cachoeirense de Letras e da Academia de Belas Artes do RGS.


