Por Luiz Maurício Azevedo
Nessa reunião de ensaios, publicada ainda durante a pandemia de COVID-19, a poeta, tradutora, editora e jornalista porto-alegrense Fernanda Bastos enfrenta os grandes temas da arte contemporânea. Desfilam, ao longo de 140 páginas, arrazoados profundos e corajosos sobre as repercussões éticas das estéticas hegemônicas do nosso tempo. Com uma redação ágil e limpa, Bastos (que pelo segundo ano consecutivo compõe, ao lado de Milena Britto, o coletivo curatorial da prestigiosa FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty) fornece elementos preciosos para uma nova chave interpretativa do mundo que nos cerca.
O resultado da empreitada sugere que, se quisermos cuidar de nossas autorias, devemos deixar entrar aquilo que é fértil e fechar a porta para pressões e demandas externas que se apresentam no invólucro dourado de um cavalo de Tróia, mas que não passam de poeira esterilizante. É na qualidade do diálogo entre aquilo que é nosso e aquilo que é do mundo – defende a autora – que se assenta a baliza que suporta nossas obras.
Os árbitros, as botas, as melancias e os postes traz o que o ensaísmo contemporâneo negro tem de melhor: rigor, pertinência temática e ambição estética.

