‘OS TERNOS DE CHARLIE PARKER E OUTROS POEMAS’, DE MARCO DE MENEZES

Por Dinarte Albuquerque Filho

Eis que Marco de Menezes nos presenteia com mais um bom livro de poesias. Os ternos de Charlie Parker e outros poemas (7 Letras, 2023) é o tipo de livro que entusiasma novos leitores e agrada os que procuram acompanhar a cena literária.

Ao contrário do título, os “outros poemas” é que dão início à jornada, começando por “doppler”:

“ó mãe
nem sei por que digo isso
mas meu coração não tocar
o coração de uma estrela…”.

Daí por diante, segue-se uma série de poemas para reler ao longo dos dias, cheios de lembranças (os poemas), cheios de referências da cidade natal e de personagens, fictícios ou não – algumas sei, outras não faço ideia –, lugares externos e lugares internos (os dias), num compartilhar de aproximações que encorpam a leitura do cotidiano a partir da leitura dos versos.

No poema que dá título ao livro, lemos:

“ele salvando um deles, de flanela
macia e singela
com certo corte beatnik
em sua elegância oblonga
muito requisitado pelos bateristas…”.

E os poemas de Marco seguem, até o final, com cadência, em um andamento jazzístico que revolve sensações adormecidas e faz com que a mente se volva sem saber para que lado fixar a atenção.

Um dos últimos poemas do livro, “Eduardo e Odegar”, Marco presta homenagem a dois poetas caxienses, já falecidos, um mais conhecido, outro menos, ambos à mercê da falta de interesse da maioria dos leitores pelos poetas que moram perto

“e ao querer os dois riachos
a porta a veia cava
como a ázigos transporta
a linfa parda dos longes
eles imitam os poetas,
os riachos em vida secreta:
de noite mastigam pedras
de manhã mastigam nuvens

de tarde uma linha reta
de só afiado lume
que vem caindo macio
sobre a cabeça dos homens”.

Como percebeu Kelvin Falcão Klein, o livro “é tanto uma celebração dos mistérios do mundo quanto a descrição das insuficiências da realidade”. E se, no começo do texto, afirmei ser um mais um bom livro de poesias, reafirmo ao encerrar o texto: é um belo livro de poemas!

Leia mais do autor em Sepé.

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