1 poema de Dinarte Albuquerque Filho

espero a primavera
para voltar a sentir
o perfume
espero não me submeter
ao negrume das máquinas

à ausência das fábricas

à impermeabilidade do betume.
quero o q é meu

: a alegria de olhar pela janela
escrever um poema para
às sete da manhã
receber um bom dia
de quem há muito me ocupa.
cansei da culpa e
de querer fazer sentido e
de dar ouvidos a
quem me entristece;

estou farto
de preconceito

e de inverdades
de pretender o controle
sucumbir às vaidades
– cansei
do q é frio
cansei
do q é perfeito

mas
enquanto isso não passa
enquanto não parto

penso em ti, como penso
fico em silêncio
na sombra do meu corpo

me recomponho
entre sonhos q me assombram

aguardo o encanto de setembro
– discreto no meu canto –
a vislumbrar a luz sobre as cinzas
entre o aço e o concreto

Dinarte Albuquerque Filho é ator dos livros A tempestade é metáfora (Liddo, 2022), Fissura no asfalto (Liddo, 2019), Leituras na madrugada (Liddo, 2014), Leminski: o “samurai-malandro” (EDUCS, 2009) e Um olhar sobre a cidade e outros olhares (Edição do autor, 1995). Foi patrono da 36a Feira do Livro de Caxias do Sul, em 2020, e é editor da Liddo Editora (Caxias do Sul, RS), do blog leiturasnamadrugada.blogspot.com e do Instagram @liddoeditoracaxias. É natural de Cruz Alta (RS), jornalista (UCS) e mestre em Letras – Literatura (UFRGS).

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