Genuflexão número 1
A morte não é discreta
e nos tira de cena devagar
Devagar acende nossas rugas
num olhar que vai ficando mais
e mais azul
Indiscreta
faz-nos invisíveis
risíveis a olho nu
ressecados e planos,
submissos e vagos
falando por hieróglifos
celebrando
uma vaga
e claudicante
memória de elefante
(Ou estou no meio disso
assim
falando mesmo
de mim?)

Genuflexão número 2
Quando morrermos
morrerá também a nossa eternidade?
A quem mais pode importar o eterno
senão a nós?
E afirmar a existência do divino
e divinizar a vida ?
Dá-me, senhor, a eterna vigilância
daquilo que em mim é perecível
e constante,
daquilo que posso tocar
vendo sumir aos poucos,
na linha do horizonte
como essa ponte
de eternidade visível e mortal
e sempre nossa
até que a vida
da vida nos separe
E quase ia dizendo
Amém

Genuflexão número três
Retroceder
Passo
de garça
Fino
Suzana Vargas é gaúcha de Alegrete e reside há 50 anos no Rio de Janeiro. É poeta, autora de literatura infantil e juvenil, ensaísta. É Mestre em Teoria Literária pela UFRJ e especialista em Leitura. Criou e dirige há 28 anos a Estação das Letras, hoje Instituto. Realiza curadoria de literatura para Feiras e Bienais, entre esses trabalhos desenvolve há 03 anos o Clube de Leitura do Centro Cultural do Banco do Brasil. Possui 16 livros publicados, ente os quais os seguintes títulos de poesia: Sombras Chinesas (Massao Ohio Editor), Caderno de outono e outros poemas (Ed. Relume Dumará), finalista do Prêmio Jabuti, e O amor é vermelho (Ed. Garamond).

