camuflagem
cores e carpas,
o coração, bravio,
no interior do poema
risco os teus ouvidos, camuflado
brincos de escamas
brinco. movido de mudez,
os teus ouvidos.

mínima faísca
reparei-os pela manhã,
ao invés da cor dos terremotos
e da carne dos falcões,
eu reparei seus olhos vermelhos
mais vivos do que a coloração
da íris dos vulcões
no dia em que eu abrir
o meu coração
a você você vai reparar
como é avermelhado
o meu coração:
basta uma mínima faísca.

onde dormem os barcos
inicio um poema de mãos ásperas
da maresia que ilustrei o teu nome
coisa boba e rara
um marisco,
o rabisco
ao chão uns grãos de areia da casa
eu te aponto que os poemas em
(teu nome) são passos entorno da
e
n
s
e
a
d
a

desértico
revisa a minha língua
ao fim da tarde de um dia
lilás-cinza
a delicadeza da pupila
rasgando-nos
as vírgulas
por você eu desertificaria
o deserto por acaso
Gyzelle Góes é mestranda do PPGLCC na PUC-Rio e pesquisa arquivo e poesia. Atualmente, coordena edições e ilustra capas de livros na Editora Folheando. Publicou duas obras poéticas: O que fizemos das nossas delicadezas (Ed. Folheando, 2021), que já está em sua segunda edição, e Amante (Ed. Urutau, 2019). A poeta carioca se formou em Letras-Licenciatura pela PUC-Rio em 2019.


Muito bons os poemas. Camuflagem, creio, é o que mais me toca. Pelas sutilezas e metáforas.
As imagens desenhadas pelos versos de Gyselle são delicadíssimas e ao mesmo tempo pungentes, vorazes. Nos pega de surpresas e nos encanta. Nos arrebata de pura poesia.