5 poemas de Luciana Nobre

entre suavidades
e agressões
o mar conquista a inconstância sedenta da praia

nuvens passam
gaivotas sondam
choram estrelas

um amor de espumas
ao sol
conta apoucadas luas
até lhe carregue
por força inconteste
a leveza insólita da menor brisa

ah! mar!
castelo arenoso,
o imperfeito não se sustenta

algum mistério em teu olhar…
jaz?
pulula?

ah…
o quero traduzir!

talvez não diga nada além
do silêncio próprio das lápides esquecidas
mas talvez
talvez
albergue a própria poesia
no calor taciturno de um par de íris plácidas
a uma faísca da refração que nos ressuscite a luz

um quê de tristura
me pousou úmido
os retentores das frestas
na centelha desfalecida
um verde pálido
quase cinza
brinca de se esconder
querendo querendo se espraiar
onde estás, amor,
que não nos cura?

as horas passam lento
as ruas passam turvas
nem parecem devorar os anos
e os homens
na pressa de chegar
há tempos não se voltam
para dentro
os dias são triturados com a complusão exilada pelo tempero prometido
amaciados pela saliva ácida que jorra das papilas das falácias
segundo a diretriz metodicamenre orquestrada
pelos bebedores de uísque centenário

os momentos amenos
adiados
indigestos os engolimos
redondo
com a mesma fome insaciável
dos nossos pais
com a mesma sede de que não apenas
passásemos ébrios pelo tempo

a expressão fluida sai de mim
nos poros peneirada
soa o delicado rubor da puberdade
ainda em descoberta
tempera-se na medida certa com o sal
úmido de umas palavras
densas de dizeres
uma coleção de sons leves e de vazios inexprimíveis

o que não vês
é o sangue batido
coagulado ao contato com o desencanto
o que nem sempre pressentes
é a borra que cala resignada

sim!
a seiva petrificada de um coração estilhaçado
sangra pelos dedos do poeta
-tolo que é-
com o aroma e a maciez intrincada
pelo sacrifício de um crisântemo rubro
no fim da vida

Luciana Nobre nasceu em Fortaleza e se mudou para Manaus aos catorze anos. Formou-se em Letras pela UFAM, onde se especializou em Produção Textual. É membro da Associação Brasileira de Escritos e Poetas Pan-Amazônicos-ABEPPA e da Academia Brasileira de Sonetistas-ABRASSO.  Escreve poemas, crônicas, ensaios, contos. Participou das antologias De mim para ti, A imortalidade amazônica e Escrever é uma alegria. Suas obras individuais estão no prelo.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *