Por Lelei Teixeira
A literatura me cercou neste ano de 2023 que chega ao fim. Acolheu, inquietou, ampliou meus horizontes, descortinou realidades diversas, próximas até, que desconhecemos ou não olhamos com olhos de ver. Diante de tudo que li afirmo, mais uma vez, que a arte salva e que a leitura alarga os caminhos. Descobri novos autores e autoras que apontam realidades excludentes, calcadas no machismo e no preconceito estrutural que contamina a nossa convivência e o nosso bem estar, o que foi libertador. Entre as leituras que fiz, uma começa pelo instigante título – Corra e não olhe para trás: Como se defender de uma pessoa com transtorno da personalidade narcisista.
É um livro pequeno, escrito pela psiquiatra Betina Boeira e pela psicóloga Luciana Tisser. No lançamento as autoras afirmaram: “É um livro de bolsa!”. Exatamente isso – bolsa – porque foi feito na medida para uma bolsa feminina. É voltado para mulheres que mergulham em relacionamentos complicados com homens narcisistas e que, na maioria das vezes, não se dão conta. Os relatos de Betina e Luciana partem do conhecimento profissional de cada uma, de pesquisas, de suas experiências clínicas e vivências. O objetivo é mostrar e estimular as leitoras a identificar um narcisista a partir da observação de suas táticas de manipulação, atitudes e comportamento. A publicação aponta para as fases características do relacionamento com um narciso, “desde a idealização, passando pela desvalorização, até o descarte”. E sugere vários caminhos para que as mulheres se afastem e busquem recuperar a dignidade e a autoestima, que podem se perder em relacionamentos marcados pelo egoísmo.
Além de fazer um alerta necessário, o livro acolhe as vítimas de relacionamentos abusivos e comenta uma história real, anônima, para enfatizar a maneira perigosa usada pelos narcisos no processo de sedução. As autoras instigam a busca pelo “conhecimento sobre o transtorno da personalidade narcisista, que, embora possa afetar qualquer pessoa, é mais frequente em homens, que escolhem suas vítimas a dedo – pessoas carinhosas, atenciosas, empáticas, sensíveis e generosas, porém vulneráveis”. Ao identificar o transtorno, certamente as mulheres terão mais ferramentas para saber se já foram vítimas ou se ainda são e podem evitar relações futuras com perfis semelhantes. Relações que causam danos e traumas, muitas vezes irreparáveis, e podem gerar culpas, afastamento dos amigos e da família, solidão, entre outras consequências perniciosas para uma vida já contaminada.
É um livro que pode ser definido “tanto como antídoto quanto libertação” porque traz informações que acendem uma luz interna, provocam reflexão e estimulam a busca por liberdade. Heloísa Stefan, supervisora editorial, diz que a publicação “precisa ser disseminado entre todas as mulheres, que juntas poderão se defender e proteger umas às outras de uma forma de relacionamento que não pode continuar normalizada. É uma espécie de grito de alerta em nome da cura e do acolhimento para as vítimas de relacionamentos abusivos”.
O psicanalista e psiquiatra Rafael Wanke, que assina o prefácio, ratifica que a proposta do livro é apontar para a direção da cura psíquica em busca de relações equilibradas, saudáveis e transparentes, que não transformem as mulheres em simples objetos de desejo descartável.
Mas se o contato com ex-companheiros, sem dúvidas narcisistas, ainda for necessário, especialmente quando os filhos estão envolvidos, a recomendação é conversar e procurar um convívio saudável, sempre atento, se for possível, é claro.
No final do livro há um pequeno glossário para uma consulta rápida de termos relacionados ao assunto.
A editora responsável é a Ballejo Cultura & Comunicação. O livro tem 96 páginas e 12x18cm. A capa, o projeto gráfico e a editoração são assinados por Paola Manica.

