DE ‘KAIRÓS’, de Luiz Renato de Oliveira Périco

Há pó sobre os meus livros
Os lidos e os não lidos
Há pó sobre a estante
E sobre a escrivaninha

Há pó sobre os móveis
Imóveis no escritório
E vê-se à contraluz
Que há pó até no ar

Passo o dedo na mesa
E desenho uma linha
Esse pó no meu dedo
É sua vida e é a minha

OS SINOS DA MEIA-NOITE

Os sinos da meia-noite
Avisam que um dia termina.
Ou que um dia começa?

(A dubiedade dos sinos
Da meia-noite me atravessa…)

DUAS NUVENS

1.O sol encoberto pelas nuvens –
catarata esbranquiçada
sobre olho amarelado

2.As nuvens brancas no horizonte –
Uma montanha nevada
Em plena tarde tropical

􀀰􀁠􀀩􀀢􀀳􀀪􀀢􀀯􀀢
O’HARIANA

tomar uma Coca-Cola® sem você não é nem de longe a
[mesma coisa

􀀱􀀰􀀭􀀢􀀳􀀰􀀪􀀥
POLAROID

não tirem fotografias
não há nada que mereça
mais que menos de um segundo
e que não desapareça

não há nada que mereça
pouco menos que o momento
fotos apenas preservam
o desaparecimento

Luiz Renato de Oliveira Périco (1983 – Jacarezinho/PR) é bacharel em Letras pela FFLCH-USP e em Direito pela FDUSP e vive em São Paulo/SP. Autor do livro Forma Amorfa (Viv Editora, 2021) tem poemas publicados nas revistas Lavoura, Toró, Ruído Manifesto e Mallarmargens. Divulga seus poemas no Instagram @lroperico.

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