Por Alexandre Britto
O corpo é um todo maravilhoso — joelho, cabelos, pescoço. Algo completamente esplêndido: cabeça, tronco, membros. Partes extensas, partes diminutas- garganta, estômago, medula.
Um sem fim de órgãos, glândulas, músculos, que vestem as vestes da pele, se erguem sobre os próprios ossos e partem para conquistarem o mundo.
Porém, certas partes desta obra de arte feita de sangue, tutano e carne, não estão em primeiro plano, não ganharam palco, não aparecem em destaque. Mas cada artéria, alvéolo, gânglio, da planta dos pés às ramificações cartilaginosas dos brônquios, merecem a sua cota de assombro.
O ouvido por exemplo, alguém imagina o que tem dentro? Um labirinto, uma vespa, um túnel do tempo? E a úvula? O que é isto? Uma campânula, uma válvula, uma dúvida? O que dizer do umbigo? Sempre tão ambíguo. Ou do cotovelo e seus inconfessáveis segredos?
Cheios de alegria, os poemas de Inara exploram em versos o nosso curioso universo interno, dissecando poeticamente o íntimo dos nossos corpos.
Com uma poesia inteligente, feliz, o que se esconde na gente faz com que o que se esconde na gente seja muito mais do que a nossa anatomia nos diz.

